Após percorrer com o olhar grande parte da produção fotográfica artística do estado e contar as histórias das pessoas por trás das câmeras, o Aqui Acolá chega a sua 10ª e última edição do Dossiê Fotografia Alagoana. Desta vez destacando a pluralidade de linguagens, muito embora tendo um cenário em comum – as ruas da cidade. O blog conversou com os fotógrafos Felipe Camelo e Roger Silva, que contaram como eles utilizam da arte da fotografia para registrar e eternizar as cenas e momentos que presenciam.
Felipe Camelo
Depois de começar a estudar Física e Meteorologia, o maceioense Felipe Camelo se encontrou no curso de Comunicação. Mas antes disso, a fotografia já fazia parte de seu dia a dia. Muito criança já brincava com a máquina de seu pai, e um tio seu profetizou que ele iria viver da fotografia ao ver um registro que fez do lampião da casa de seus pais. “Ele realmente estava certo. Adoro escrever, mas congelar o tempo para a eternidade é o que mais me dá prazer”, revela. “A fotografia é minha razão de ver o mundo”.
Formou-se no Rio de Janeiro e lá começou a atuar como assistente de direção na Rede Manchete, trabalhando em 8 novelas. “Nessa função você tem que entender de tudo, inclusive de fotografia”, comenta. Durante as viagens e os bastidores das gravações, ele estava sempre com a câmera em mãos registrando cenas e exercitando seu ofício.
Foto: Felipe CameloFoto: Felipe CameloFoto: Felipe CameloFoto: Felipe CameloFoto: Felipe Camelo
“Na novela Ana Raio e Zé Trovão nós passamos um ano viajando o Brasil quase inteiro”, lembra. A partir daí a fotografia entrou radicalmente em sua vida. “Eu sempre gostava de fotografar o comportamento das pessoas, os costumes das cidades por onde passava”.
De volta a Maceió e ao jornalismo, Felipe passou a dedicar-se inteira e profissionalmente à fotografia. Suas inspirações passam pelos clássicos Sebastião Salgado, Cartier-Bresson e Klaus Mitteldorf e chegam aos fotógrafos alagoanos como Ailton Cruz, Ricardo Lêdo e Felipe Brasil. “São referências que eu reverencio sempre”, diz ele.
Com um horizonte muito amplo de atuação, seu trabalho contempla de uma festa no Palácio do Governo a um vaso sanitário jogado na rua. “Costumo dizer que tudo e todos me interessam”, diz ele. “Vou muito pela intuição. As minhas fotografias estão prontas – eu só registro”. A essência de seu trabalho confunde-se com sua própria personalidade. “Sou muito inquieto, acelerado e a rapidez da minha fotografia é uma transparência do meu dia a dia”.
Foto: Felipe Camelo
Foto: Felipe Camelo
Foto: Felipe CameloFoto: Felipe CameloFoto: Felipe Camelo
Felipe se interessa em registrar o comportamento das pessoas, e a consequência disso é a constante produção de várias séries fotográficas criadas por ele. “Eternizar momentos que a vida não traz de volta é o que me interessa”.
Com isso, ele vê com bons olhos o fenômeno contemporâneo do acesso mais amplo à fotografia, principalmente através dos celulares. “Acho bacana e saudável, até porque é mais uma garantia de que aquele momento será eternizado. Só quem ganha é a história”.
Este slideshow necessita de JavaScript.
Além da sua coluna no jornal Gazeta de Alagoas e de seu blog no site Gazetaweb, Felipe Camelo também apresenta seus registros nas redes sociais e já participou de algumas exposições fotográficas, tanto individuais como coletivas. “Hoje temos a felicidade de ver a fotografia sendo tratada como arte e estamos conquistando uma valorização muito boa. Ainda não é a ideal, mas estamos no caminho”.
Roger Silva
Natural de Barreiros-PE, Roger Silva vive em Maceió há 10 anos. E foram as ruas da cidade que despertaram a luz da fotografia em sua vida. Com 15 anos, comprou uma máquina analógica e feito menino começou a explorar o brinquedo novo tendo as esquinas e ruas do centro como cenário, quando vinha visitar seu pai nas férias. “Assim foi o início, mas de uns 4 anos para cá eu venho encarando a fotografia de uma maneira mais responsável”, revela.
Série Maceió Urbano| Foto: Roger SilvaSérie Maceió Urbano| Foto: Roger Silva
Série Maceió Urbano| Foto: Roger Silva
Série Maceió Urbano| Foto: Roger Silva
Ele se considera um cara de poucas palavras e a fotografia lhe surgiu como uma forma de expressão tão artística quanto necessária. “Acaba sendo uma extensão da minha voz. Utilizo-a para mostra o que penso, o que vejo e como eu vejo”, afirma. Quando percebeu o quanto as coisas belas eram retratadas nas fotografias e as tantas coisas não belas que nos cercam, ele decidiu fazer dessa empreitada seu mantra. “Torna-se até um ato político. É uma forma de eu contribuir de alguma maneira para esse outro lado da moeda”.
Desde sempre, a rua é seu lugar. Onde ele se sente mais à vontade e com mais vontade de fotografar. “É o que faz sentido para mim e me faz bem capturar aqueles momentos da rua, a simplicidade, o alvoroço, o outro que não é visto. Você acaba descobrindo outros mundos”. Da Rua do Comércio até Jaraguá ele já passou várias vezes e cada vez encontra cenas diferentes. “Não sei por que, mas tem uma espécie de chama que me traz para o centro”.
Série Axé nunca se quebra | Foto: Roger SilvaSérie Axé nunca se quebra | Foto: Roger Silva
Série Axé nunca se quebra | Foto: Roger Silva
Série Axé nunca se quebra | Foto: Roger Silva
Além disso, o preto e branco é outra característica essencial em seus trabalhos. “Quando conheci as fotos de Sebastião Salgado, decidi que seria assim que eu queria minhas fotos”. Para ele, as imagens ficam mais profundas quando ausentes de cor e o sentido da foto fica mais evidente. Junto com Sebastião, ele destaca os trabalhos de Pierre Verger e Vivian Maier. “Aqui tem muita gente boa também. Gostei muito do trabalho do Alexandre Carvalho e da Cláudia Leite, por exemplo”.
O resultado das inúmeras incursões pelas ruas da cidade se deu com a série Maceió Urbano, seu trabalho mais antigo e que ainda está em andamento. Já em Periferia Invisível, Roger retrata um pouco da parte esquecida de nossa sociedade.
Série Um Olhar Negro sob o Rio | Foto: Roger SilvaSérie Um Olhar Negro sob o Rio | Foto: Roger SilvaSérie Um Olhar Negro sob o Rio | Foto: Roger Silva
Série Um Olhar Negro sob o Rio | Foto: Roger Silva
Série Um Olhar Negro sob o Rio | Foto: Roger SilvaSérie Um Olhar Negro sob o Rio | Foto: Roger SilvaSérie Um Olhar Negro sob o Rio | Foto: Roger Silva
“Também tenho a Olhar Negro Sobre o Rio, no qual aproveitei uma viagem que fiz ao Rio de Janeiro há um ano e meio e tenho o projeto ainda em desenvolvimento chamado Interiores de Alagoas, onde eu pretendo fotografar as peculiaridades dos interiores – as pessoas e os lugares”.
Mesmo em sua ainda curta trajetória fotográfica, Roger Silva já participou de algumas exposições coletivas no Café da Linda, no Memorial da República, no Misa e no Teatro Linda Mascarenhas.
Além desse projeto, Roger pretende montar um estúdio fotográfico, tanto para seu próprio estudo quanto para possibilitar que outras pessoas também o utilizem com o objetivo de evoluir em conhecimento e prática em fotografia. “Tenho o desejo de deixar um trabalho legal por aqui. Acho que é um jeito de contribuir de alguma maneira para que a minha fotografia também alce voos maiores”, revela.
Série Periferia Invisível | Foto: Roger Silva
Série Periferia Invisível | Foto: Roger Silva
Série Periferia Invisível | Foto: Roger Silva
Série Interiores de Alagoas| Foto: Roger Silva
Série Periferia Invisível | Foto: Roger Silva
Série Periferia Invisível | Foto: Roger Silva
Série Periferia Invisível | Foto: Roger Silva
Série Maceió Urbano| Foto: Roger Silva
Série Maceió Urbano| Foto: Roger Silva
Série Maceió Urbano| Foto: Roger Silva
Série Periferia Invisível | Foto: Roger Silva
Série Maceió Urbano| Foto: Roger Silva
érie Maceió Urbano| Foto: Roger Silva
FOTO DE CAPA: Da Série Periferia Invisível, de Roger Silva