Quem debruçar os olhos nas imagens registradas pelas fotógrafas Luna Gavazza e Andréa Guido poderá notar algumas semelhanças. O gosto pelo preto e branco, o registro composto e pensado das situações cotidianas e pessoas na rua, além de paisagens – sejam naturais ou arquitetônicas. Apesar de relativamente iniciantes, Luna e Andréa vem desenvolvendo um robusto trabalho dentro do cenário fotográfico na cidade. O Aqui Acolá conversou com as duas para a 6ª edição do Dossiê Fotografia Alagoana e constatou que, além das características já mencionadas, ambas carregam consigo uma paixão e vontade imensas de produzir e retratar o mundo em que vivem através dos seus olhos.
Luna Gavazza
Nascida em Maceió, Luna Gavazza passou a infância e parte da adolescência em São Paulo, antes de retornar para a capital alagoana aos 15 anos. Sua história com a fotografia começou meio por acaso, ao tirar uma foto despretensiosa de uma paisagem na Massagueira e receber muitos elogios e incentivos para continuar fotografando.
“Andava sempre com a câmera pra todo lado e comecei a fotografar tudo o que via pela frente”, diz ela. “Nessa época fiz milhares de fotos do pôr-do-sol”. Logo em seguida, influenciada pelos amigos, Luna começou a divulgar suas imagens na internet. Entre curtidas e críticas, ela foi tomando contato com o ambiente dos fotógrafos e simpatizantes das imagens através dos grupos de fotografia de Maceió.





“Até que um dia o Diego Vasconcelos, do grupo Identidade Alagoana me chamou para expor as minhas fotos no Encontro Artístico que eles organizaram no Teatro Linda Mascarenhas e ele teve que me convencer muito até eu criar coragem para aceitar”, lembra. Mesmo iniciante e sem muita bagagem na atividade de exposição, o resultado foi bem aceito pelas pessoas e Luna absorveu muito os comentários e feedbacks.
Algum tempo depois, surgiu outra oportunidade de expor seus trabalhos na exposição Poesia em Foco, organizada pela Confraria Nós Poetas, na qual suas imagens eram casadas com poesias. Participou ainda da exposição coletiva do Perambular Fotográfico “Há 200 anos, Alagoas”, “Olhares alagoanos” com a Agência Fragma e a mais recente – Gabeia – que ficou em cartaz em janeiro deste ano no Complexo Cultural do Teatro Deodoro em conjunto com Arthur Celso, Adilson Andrade, Felipe Almeida e Jorge Vieira, dedicada ao Mercado da Produção em Maceió.
Incentivada pelos comentários positivos a respeito do seu olhar e das suas composições visuais, Luna resolveu fazer um curso básico de fotografia na Escola Criattiva para conseguir tirar o máximo de sua câmera.
“Depois disso eu desembestei e não parei mais”, brinca. “Buscava sempre fotos mais estáticas, como paisagens, pôr-do-sol e produzi à exaustão esse estilo de imagem”.



Conheceu Jorge Vieira e se identificou instantaneamente com sua fotografia, e passou a frequentar os workshops da Simbiose Fotográfica, organizados por ele e Thiago Sobral.
“Fiquei apaixonada pela fotografia de arquitetura, mas com a fotografia de pessoas eu travava”, revela. “Conversei muito com Jorge e ele me deu várias orientações, foi então que comecei a tirar foto com crianças até que fui pegando confiança”.
Medo superado, Luna se encantou tanto com a fotografia de pessoas que hoje é o estilo que mais pratica. Por consequência disso, ela criou o projeto Mirame (Olhe para mim), que procura captar olhares e rostos olhando diretamente para a câmera.
O trabalho de Luna tem como característica a elevação da emoção e da intuição da cena a um patamar acima da técnica fotográfica. “O enquadramento e o alinhamento são as coisas que eu mais me preocupo. Eu prefiro não perder uma foto do que perder tempo arrumando a câmera”, comenta.
Ela tem como inspiradores os amigos e fotógrafos alagoanos. “Para mim o Jorge (Vieira) tem uma sensibilidade única em lidar com a imagem humana. Também me apaixonei pelo preto e branco através de João Facchinetti e Roberto Fernandes. Thiago Sobral com a arquitetura. A Cláudia Leite que, apesar de estar começando, tem um trabalho maravilhoso. Tem a escola dionisiana de João Dionísio. Tem também a Flávia Correia, então eu acho que o pessoal daqui não deve nada aos de fora”.



Além de Mírame, Luna pretende para 2018 integrar algum projeto social com a fotografia. Também se juntou a Jorge Vieira e Arthur Celso para o projeto Mundaú Mundo, dedicado às questões da lagoa. “É um grande projeto para o primeiro semestre ainda e que vai levar muita reflexão a respeito da nossa lagoa”, conclui.
Andréa Guido
Andréa Guido é natural de Osasco-SP, mas já se considera alagoana pelo tempo de vivência em terras maceioenses – desde os 8 anos de idade. Sempre teve apreço e curiosidade pelo mundo fotográfico, mas decidiu se aprofundar e estudar a partir de 2017 quando fez dois cursos na Escola Criattiva.
“Foi um ano de muito estudo e muitas descobertas”, alegra-se. “Agora a minha felicidade é porque eu consigo regular a máquina, ir para os lugares e fazer as fotos do jeito que eu quero”. Para ela, a fotografia além do registro da imagem é a manifestação do ponto de vista e da visão de mundo do fotógrafo.



Com o pouco tempo de prática direcionada e embasada teoricamente, Andréa costuma dizer que está buscando seu caminho, mas seu trabalho já pende para o lado da fotografia de rua, incluindo pessoas. Construções e paisagens, além do preto e branco, também estão no rol de suas preferências composicionais. “Mesmo adorando o preto e branco, não tenho uma amarra em relação a isso. As cores quando são fortes numa imagem para mim elas são determinantes”, diz.
“Uma pessoa que é referência para mim, e que eu tive a sorte de ser meu professor, é o Thiago Sobral. Admiro muito o trabalho do Jorge Vieira, João Facchinetti é perfeito no preto e branco”, diz ela. “Eu prefiro olhar e estudar os fotógrafos que estão próximos a mim. Mas se for olhar para fora, gosto muito das imagens da Vivian Maier”.


Atualmente, Andréa vem se dedicando ao estudo e à prática de fotos em dupla exposição, que consiste em sobrepor duas ou mais imagens numa única composição. Já a série Magrela é dedicada às bicicletas e o registro desse brinquedo – e também meio de transporte – no cotidiano das pessoas.
“Tenho algumas outras séries que não estão nem nunca estarão fechadas, como a de pessoas em situação de rua. Eu vou alimentando-as de acordo com o que eu vejo no dia a dia”, revela.



Em 2017 também participou de sua primeira exposição, integrando a coletiva do Perambular Fotográfico e em dezembro fez parte da exposição da ONG Afro-in, que ficou em cartaz no mês da consciência negra retratando o empoderamento da mulher negra, em conjunto com Juliete Santos e Maria Lucyelma no Centro Cultural Arte Pajuçara. “Foi uma experiência muito rica, porque nessa exposição eu pude perceber o poder da fotografia”, comenta.
Para ela, a fotografia alagoana segue firme e forte, estruturando-se e aglutinando cada vez mais pessoas interessadas, devido também à acolhida por parte dos profissionais mais experientes com os que estão iniciando. Em 2018, Andréa tem como planos participar de festivais de fotografia fora de Alagoas, além de continuar estudando.
“Minha vida na fotografia está só começando e eu ainda quero aprender e produzir muito”.





FOTO DE CAPA*:Luna Gavazza
Endereço Eletrônico
LUNA GAVAZZA – Facebook: https://www.facebook.com/luna.gavazza | Instagram: @lunagavazza
ANDRÉA GUIDO – Facebook: https://www.facebook.com/deaguido | Instagram: @andreaguido_
Confira também:
1ª edição – A poesia das formas em preto e branco de Luísa Patury e Tony Admond
2ª edição – A simbiose fotográfica de Jorge Vieira e Thiago Sobral
3ª edição – João Facchinetti e Alberto Lima – Multiplicando a fotografia em Alagoas
4ª edição – João Dionísio e Cláudia Leite – experiências visuais antropológicas com perspectiva documental
5ª edição – As histórias visuais de Ricardo Lêdo e Ailton Cruz