Arquitetura Mercado

Os desafios da Arquitetura em tempos de pandemia

Autor de projetos dos mais inusitados e originais de arquitetura, urbanismo, hotelaria, design, eventos e curadoria de mostras culturais, Lúcio Moura é considerado um dos principais nomes da arquitetura em Alagoas, com importantes trabalhos em outros estados e fora do país.  O Aqui Acolá conversou com o arquiteto sobre novos projetos, reflexos da pandemia na arquitetura, dentre outros assuntos. A matéria foi inicialmente publicada na Revista Painel Alagoas, na edição de número 40 da coluna Aqui Acolá. Separamos alguns trecos da matéria para você conferir.

Recentemente, seu escritório L.M. Arquitetura e Conceito concluiu o projeto do Pratagy Acqua Park, o primeiro grande parque do litoral do Estado. Localizado numa área de 10 mil metros quadrados anexa ao Pratagy Beach Resort, nas proximidades da Praia da Sereia, o novo empreendimento conta com uma ambientação única, original e com identidade local. O ambiente subaquático é inspirado em diversos formatos de corais, conta com ossada de baleia suspensa, barco naufragado, extensa escultura de ouriço do mar logo na entrada do parque, dentre outros atrativos.

“Acabamos de concluir o Pratagy Acqua Park, que é um projeto importante para nós, não só por sua magnitude, mas porque já abriu outra linha de frente em se tratando de diversidade de projetos. Nossa pretensão é que o escritório seja percebido como um grande celeiro de ideias e soluções nas mais diferentes frentes de arquitetura”, explica.

  • Créditos das imagens: Gian Pierogadotti

A cartela de projetos é ampla e diversificada, o arquiteto nos adianta sobre outros projetos que estão em fase de execução no seu escritório. “Estamos no processo de retrofit do Hotel Pratagy, temos o Hospital Veredas unidade Fernandes Lima, onde estamos desenvolvendo um trabalho de humanização de todas as áreas, também estamos no Hospital Veredas Unidade Via Expressa. Temos o projeto em fase de implantação na Barra de Santo Antônio, onde estamos intervindo de forma cuidadosa e corretamente em uma área de 100ha na criação de um complexo de pousada e condomínio; e também estamos com alguns projetos residenciais importantes em termos de estudo ambiental”. 

Pandemia X Arquitetura

Lúcio conta que o escritório também teve que se adaptar com a chegada da pandemia. “A forma de trabalho ganhou muito com o home office, onde as questões passaram a ser resolvidas quase instantaneamente. A presença física é imprescindível em determinados momentos, mas acabamos por ampliar nosso horário de trabalho com a pandemia”. E não foi apenas a forma de trabalho que mudou, novas demandas começam a surgir apontando um novo cenário no pós-pandemia para a arquitetura.

“O que vejo como influência da pandemia em relação aos projetos, principalmente residenciais, é a busca por espaços abertos, arejados e que transmitam liberdade e bem-estar”. “Acredito que o mercado reagiu de forma positiva, o que particularmente não acreditávamos, pois em um primeiro momento tudo ficou paralisado. Com poucas semanas surgiu uma busca por mudança, por liberdade, e aí começaram os planos para casas de praia, de campo e mudanças nas próprias casas e apartamentos já habitados. Assim surgiu uma nova forma de sentir e viver o espaço, espaço para a família, espaço para si próprio”, avalia.

Mutum-de-Alagoas

O escritório do arquiteto atende também o Instituto para Preservação da Mata Atlântica (IPMA), ONG que conseguiu trazer para o estado o Mutum-de-Alagoas, ave considerada extinta desde 1979. Roteiro, município alagoano que também tem seu projeto urbanístico assinado por Lúcio, foi escolhido para ser a cidade de reintrodução da ave na natureza.  Segundo o arquiteto, o trabalho desenvolvido junto com o IPMA é algo muito grandioso para o escritório, uma vez que integra o conhecimento em arquitetura com um propósito ecologicamente correto. “O projeto do Mutum está em uma fase crucial de sua trajetória onde as aves estão sendo soltas e acompanhadas. Cabe a nós, como arquitetos do projeto, acompanhar para que tudo ocorra de forma positiva”, ressalta. 

Arquitetura Emocional


Percepção arquitetônica acentuada, atento ao que existe de vanguarda, aliado à paixão por antiguidades e busca por sensações e emoções, Lúcio Moura tem como referência dois nomes da arquitetura brasileira, a pernambucana Janete Costa e o arquiteto mineiro José Duarte de Aguiar, que acabaram por influenciar significativamente seu trabalho. Um dos aspectos mais peculiares do trabalho do alagoano é a importância que ele dá a conexão emocional entre cliente e projeto. “Em cada trabalho eu procuro absorver das pessoas exatamente essa afetividade, essa emoção que as pessoas têm de determinadas coisas.

Que não sejam apenas minhas referências, mas que cada um tenha as suas. E provocar esse ressurgimento enfim, lembrança, sentimentos, essas emoções que elas têm é fantástico para um projeto. Isso faz assinatura de um cliente no projeto e não só a minha”, ressalta.

“Acredito que a principal marca do nosso trabalho seja a busca pela verdade…verdade que está na escolha dos revestimentos, naturais, verdade nos móveis e objetos sendo estes sempre com referências afetivas ou culturais e na verdade o espaço está sendo executado não para nós, mas para uma outra família, uma outra pessoa”, conclui.

Antiguidade

Além do envolvimento com temas relacionados a proteção da natureza, Lúcio Moura é conhecido por ser um contumaz colecionador de antiguidades, obras de arte sacra e valorização da arte popular. Fato que também corrobora para a originalidade dos seus projetos.

“A busca pelo atemporal reforça a paixão pela antiguidade pelo único, e isso está diretamente ligado a ideia de que cada projeto tem a obrigação de ser único também.”

Segundo o arquiteto, o gosto por antiguidade tem raízes profundas. A primeira influência veio da bisavó Anatólia, paixão repassada por seus antepassados judeus vindos da Anatólia, inclusive seu nome era uma homenagem às origens da família.  E também da sua avó Nadir, que aos 16 já usava parte da mesada para aquisição de obras antigas. “Tem todo esse fio dessa linha de vida. E isso acabou provocando uma situação que eu gostaria de manter até como referência pessoal, até como história de família de sentimento de emoção”, revela.

Fotos: Reynaldo Gama Jr.

“Eu sempre fui inquieto e quando com 17 anos resolvi ter meu primeiro móvel antigo saí em busca, em casas, fazendas, antiquários aqui, fora do estado e também fora do país, não há outra forma de montar uma coleção tem que ter insatisfação e busca, sempre”, conta.


Texto de Iranei Barreto | Créditos das imagens: Gian Pierogadotti, Rogério Maranhão, Reynaldo Gama Jr.  e acervo pessoal de Lúcio Moura.


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