Arquitetura Cápsula de Arquitetura & Design

A arquitetura emocional de Lúcio Moura

"E eu acho que sou movido a isso. Eu vejo hoje inclusive com os clientes. Quando o cliente vibra do lado de lá isso reverbera do lado de cá do escritório. Essa vibração é ampliada.”

Você recorda da sua primeira sala de aula? Lúcio Moura é capaz de descrever com detalhes do revestimento do piso ao mobiliário da sala em que foi alfabetizado no colégio Santa Terezinha. Percepção arquitetônica acentuada, atento ao que existe de vanguarda, aliado à paixão por antiguidades e busca por sensações e emoções, assim é Lúcio Moura. Autor de projetos dos mais inusitados e originais de arquitetura, design, eventos e curadoria de mostras culturais. Na 2ª edição da nossa Cápsula de Arquitetura & Design, ele conta um pouco da sua trajetória e fala de novos rumos.

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Tudo parecia conspirar para que o filho de Anamalia trilhasse o caminho do Direito. Mas, o homem não pode fugir da sua missão e Lúcio Moura foi parar na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas.  “Eu acredito que você nasce artista, você nasce arquiteto. Eu acho que existe um talento nato. A técnica que você adquire depois é a técnica que você aprende a expressar isso. Seja na universidade, seja na sua vivência. É algo que vai agregar ao sentido exacerbado”, diz ao ser indagado sobre  por que optou por Arquitetura.

Aluno aplicado e educado nas mais tradicionais instituições de ensino, sentiu o impacto negativo ao ingressar na universidade pública. “Eu não sentia retorno, vibração dos professores e da Universidade. E eu acho que sou movido a isso. Eu vejo hoje inclusive com os clientes. Quando o cliente vibra do lado de lá isso reverbera do lado de cá do escritório. Essa vibração é ampliada.”

A desilusão foi tamanha que ele tirou um ano sabático da arquitetura para decidir se realmente iria continuar. “Quando voltei um ano depois, já tinha retirado todo impacto negativo que a Universidade tinha me dado. Toda aquela situação de você se vire, eu não vou lhe cobrar. Quando voltei, voltei por mim. Eu queria me formar em arquitetura”. 

 O universo conspirou e ao retornar Moura encontrou duas excelentes professoras – Edy Marreta Timóteo e Verônica Robalinho Cavalcanti. “Elas foram exatamente o que eu sempre sonhei em ter como Universidade de arquitetura. Aquela pessoa que está ali ao seu lado, que é apaixonada pelo trabalho dela e quer fazer você pensar.”

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Paralelo aos conflitos com a Universidade, Lúcio Moura concebeu seu primeiro grande projeto quando ainda cursava o 2º ano de Arquitetura e Urbanismo, em 1988. Outro detalhe da formação de Lúcio Moura é que ele preferiu não estagiar para não sofrer influência de outros arquitetos. No entanto, a pernambucana Janete Costa e o arquiteto mineiro José Duarte de Aguiar, ambos já falecidos, são suas grandes referências e acabaram por influenciar significativamente seu trabalho.

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Mostra “Reconhecer”, na Artefato. Curadoria de Lúcio Moura (2013)  | Foto: Acervo
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Mostra “Reconhecer”, na Artefato. Curadoria de Lúcio Moura (2013) | Foto: Acervo

 

 

Depois de um período trabalhando em Maceió, surgiu um projeto da Direct TV, no São Paulo Fashion Week, em 2001, que acabou influenciando Lúcio Moura e o sócio Henrique Gomes a montar um escritório na capital paulista. A logística estabelecida pelos sócios permitiu que mantivessem escritórios em Maceió e São Paulo. Os arquitetos se revezaram durante cinco anos mudando de cidade a cada três meses. Em 2006, Lúcio resolveu se dedicar apenas ao escritório de Maceió. Mas continuou atendendo clientes em outros estados, inclusive de São Paulo.

Ao retornar definitivamente para Maceió, Lúcio Moura decide então transformar seu escritório em uma empresa. “Eu volto para Maceió, começo a trabalhar só. Em determinado período, isso tem uns quatro anos, eu passei a me cobrar que o Lúcio Moura profissional e autônomo virasse uma empresa”. Neste áudio, ele explica como aconteceu o processo de planejamento e amadurecimento.  Ouça!

Depois de formada a equipe, o segundo passo foi ainda mais transformador. A residência, que construiu junto com o pai e local que fica parte do seu acervo de antiguidades, passou a abrigar seu novo escritório. E ele foi morar em um hotel! Lúcio conta os detalhes desta reviravolta! Escute! 

Formado o escritório L.M. Arquitetura e Conceito, o passo seguinte foi definir quais projetos seriam interessantes para atender. Atualmente o leque de serviços contempla a arquitetura e suas ramificações, passando por hotelaria e urbanismo. O escritório atende também o Instituto para Preservação da Mata Atlântica (IPMA), ONG que conseguiu trazer para o estado o mutum-de-alagoas (Pauxi mitu), ave considerada extinta desde 1979.

O trabalho desenvolvido junto com o IPMA é algo muito grandioso para nós. É você integrar tudo que você pensa de arquitetura a algo ecologicamente correto. Eu não quero vender a ideia de ecologia, eu quero viver a ideia de ecologia, é diferente,” explica.

“Hotelaria é outra coisa que também aconteceu por acaso. Eu fui convidado para trabalhar no Hotel Pratagy e fui trabalhar lá porque os proprietários viram um trabalho de Casa Cor. Eles não chegaram a ir lá, mas fomos capa da Revista anual da Casa Cor e eles identificaram o nosso trabalho como sendo aquilo que eles queriam para o hotel,” lembra Lúcio, que também assinou posteriormente o projeto do Café de La Musique Maceió e com outros hotéis. Atualmente, o escritório trabalha em um projeto de hotelaria gigantesco no Litoral Norte.

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Orla de Roteiro Projeto Urbanístico  do escritório  L.M. Arquitetura e Conceito | Foto: Acervo
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Orla de Roteiro Projeto Urbanístico  do escritório  L.M. Arquitetura e Conceito | Foto: Acervo
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Café de La Musique  Maceió – Projeto do escritório  L.M. Arquitetura e Conceito | Foto: Acervo
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Café de La Musique  Maceió – Projeto do escritório  L.M. Arquitetura e Conceito | Foto: Acervo
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Café de La Musique  Maceió – Projeto do escritório  L.M. Arquitetura e Conceito | Foto: Acervo
HOTEL PRATAGY
Hotel Pratagy –  Projeto de hotelaria do escritório L.M. Arquitetura e Conceito | Foto: Acervo

O escritório L.M Arquitetura Conceito assina todo o projeto urbanístico de Roteiro, município de Alagoas, situado a 82 km de Maceió. “Estamos fazendo Roteiro já tem quatro anos”, recorda. O município  foi escolhido para ser a cidade do Mutum-de-Alagoas. O escritório – conveniado ao IPMA – inseriu no projeto urbanístico de Roteiro uma Casa Museu sobre o Mutum-de-Alagoas, que vai trazer a história da ave aos visitantes.

Lúcio Moura fala um pouco mais sobre os planos do escritório que envolve tecnologia (com equipamentos de última geração); arte, que engloba também cultura e patrimônio; e natureza.   Confira!

Uma dos aspectos mais peculiares do trabalho de  Lúcio Moura  é a importância que ele dá a conexão emocional entre cliente e projeto.  “Em cada trabalho eu procuro absolver das pessoas exatamente essa afetividade, essa emoção que as pessoas têm de determinadas coisas. Que não sejam apenas minhas referências, mas que cada um tenha as suas. E provocar esse ressurgimento enfim, lembrança, sentimentos, essas emoções que elas têm é fantástico para um projeto. Isso faz assinatura de um cliente no projeto e não só a minha.”

Além das questões relacionadas à natureza e arquitetura, Lúcio Moura é conhecido por ser colecionador de antiguidades, obras de arte sacra e valorização da arte popular. Fato que também corrobora para a originalidade dos seus projetos.

Segundo o arquiteto, o gosto por antiguidade tem raízes profundas.  A primeira influência veio da bisavó Anatólia, paixão repassada por seus antepassados judeus vindos da Anatólia, inclusive seu nome era uma homenagem às origens da família.  E também da sua avó Nadir, que aos 16 já usava parte da mesada para aquisição de obras antigas. “Tem todo esse fio dessa linha de vida. E isso acabou provocando uma situação que eu gostaria de manter até como referência pessoal, até como história de família de sentimento de emoção”, revela. 

No vasto universo da antiguidade, Moura destaca o gosto acentuado por mobiliário, sobretudo os fabricados entre os séculos 17 e 18. 

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A residência do  arquiteto Lúcio Moura foi assunto da Casa Vogue.  | FOTO: Rogério Maranhão

 

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A residência do  arquiteto Lúcio Moura foi assunto da Casa Vogue.  | FOTO: Rogério Maranhão

Pernambuco aponta quem sabe para um próximo passo. De acordo com Lúcio, o processo tem acontecido de forma casual. Mas, já há o pensamento de montar um escritório lá ou pelo menos uma discussão. Existe uma perspectiva, existe um campo específico para o trabalho que o escritório tem desenvolvido.

“Eu quero continuar crescendo, eu quero entrar no mercado de Pernambuco e continuar aprendendo. Estamos mexendo muito com a parte  de urbanismo e hotelaria. O escritório está abrindo um leque maior com essa parte de paisagismo, que eu nem tinha paciência com isso, mas estou apaixonado pela vegetação espontânea. Mas aí o que eu penso e ando refletindo é fazer com que esse crescimento aconteça de uma forma que eu não perca minha paz. Porque para criar eu preciso estar em paz.”

 


Site: http://luciomoura.com.br   |  instagram.com/luciogomesbarrosmouraarquiteto/


Foto da Capa: Cortesia de Augusto Saboia do blog PPPs

 

 

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