Artes

Suel – vida e arte urbanas juntas e misturadas 

De artistas clássicos como Claude Monet e Pablo Picasso a surrealistas como Salvador Dalí, passando por rock e a cultura hip hop com o grafite. Assim é feito o caldeirão que mistura toda a alquimia do trabalho de Suel, um dos mais importantes artistas contemporâneos de Alagoas. Com quase 30 anos de carreira, ele contou um pouco sobre sua trajetória, inspirações e referências, arte urbana e planos para os próximos passos de sua vida criativa. 

 Apesar de sua veia artística bastante urbana, Suel é fruto do agreste e sertão alagoanos. Natural de Palmeira dos Índios e criado nos primeiros anos da infância em Santana do Ipanema, o artista de 46 anos lembra que passou a se interessar pela arte visual através de histórias em quadrinhos e pelas capas de discos de rock que ouvia na infância e adolescência. “Antes de começar a produzir, eu gostava muito de ver grafite”, lembra ele. “Coisa que só vim começar a fazer muito tardiamente, já adulto”

 Uma das pessoas mais importantes para a construção do trabalho de Suel é Carol Gusmão. “Ela é minha curadora, esposa, incentivadora, musa inspiradora há mais de 20 anos. Eu só faço mais arte por influência dela”, declara. Autodidata, a arte de Suel se apresenta difícil de classificar, como comenta a professora Carol Gusmão: “Definir o trabalho dele é uma tarefa árdua porque, de certa forma, ele teve muitas influências”, diz ela. “De início vieram as HQs e depois seu interesse foi migrando para um universo mais acadêmico – Salvador Dalí e outros pintores surrealistas, que têm essa questão do onírico como sendo uma base de expansão do pensamento criativo. E de lá pra cá, muitas outras influências foram surgindo, a medida em que ele ia descobrindo novos artistas e atualmente é um leque bem grande”. 

 “É muito patente na obra de Suel a influência da arte oriental, sobretudo pela questão da delicadeza, do uso das cores, das formas sinuosas e também da Art Noveau, que são dois movimentos que se encontram no século XIX”, explica Carol. “Assim como algumas vertentes pictóricas do simbolismo como Gustav Klimt. Fora isso, a arte urbana com certeza, com seus vieses contemporâneos, sobretudo o grafite – é dele que Suel tira o impacto visual de suas obras”. 

 Seu trabalho pode ser contemplado basicamente de duas formas – através de exposições artísticas ou nas paredes onde ele é chamado para colocar suas ideias em grafite. “Apesar de eu ser considerado um artista urbano, eu não faço grafite autoral não autorizado nas paredes, sempre são oriundos de encomendas”. Além disso, ele conta que grande parte do público também toma conhecimento de seus trabalhos através de arquitetos e do ‘boca a boca’. “Já quase 30 anos trabalhando e essa rede de quem entra em contato com meu trabalho vai sempre crescendo”, diz ele. “Exponho também em mostras de arquitetura e é uma ajuda mútua. Faço muitos trabalhos para eles, tanto totalmente autorais meus, quanto a partir das ideias iniciais deles, sejam elas em quadros ou em paredes, instalações, etc”. 

Suas técnicas e materiais são diversas, desde ilustração digital a manual, de pintura acrílica a spray. “Faço murais em acrílico ou tinta pra parede, quadros e por aí vai. Só não uso muito tinta a óleo, porque acho um trabalho muito acadêmico, muito demorado. Eu gosto de um trabalho rápido”, afirma. O forte de suas criações é a arte figurativa, suas influências partem do grafite ao movimento do Surrealismo, inspirando-se em artistas contemporâneos que mesclam a arte abstrata com a figurativa. “Ainda gosto muito dos grandes clássicos da arte gestual como Picasso, como também Monet; Gustav Klimt é um dos artistas de que mais gosto”, revela. “Tem ainda outros mais obscuros como H. R. Giger, o cara que criou o Alien, que eu costumo buscar como referência também”

 “O uso da tinta spray, os contrastes, as texturas, toda essa urbanidade se reflete através desse viés que é bastante contemporâneo no seu trabalho”, detalha Carol. “Todavia, o que nós podemos de fato dizer é que a obra de Suel é realmente uma mescla de temporalidades, de visualidades, estéticas e estilos. Na qual o artista não se nega a fazer com tudo isso uma grande fusão híbrida, que inclusive é uma das características principais da arte contemporânea – é se deixar aberto ao multiculturalismo”. 

 Ele revela que tem planos de organizar sua próxima exposição individual. “Já faz muito tempo que não exponho um trabalho maior, apesar de sempre estar presente em mostras coletivas com uma ou duas obras”, diz ele. “Pretendo fazer uma exposição grande, ainda estou procurando o lugar certo que abrigue um acervo maior”. Segundo ele, a ideia inicial do trabalho é misturar dois estilos numa obra só. “Juntar o antigo com o contemporâneo, a xilogravura do cordel com a arte rococó, ou uma arte clássica tradicional com um grafite por cima, sabe?”. 

 Essa ideia de unir várias linhas de pensamento numa única obra já vem passando por sua cabeça há bastante tempo. “Apesar da exposição ter um tema só, eu gosto quando cada quadro tem sua linguagem, sua diferença”, diz ele. Sua intenção com suas obras expostas é provocar nas pessoas a sensação de que há mais de um artista na mostra. “Muitos artistas passam a vida fazendo séries idênticas. O que eu quero que o público espere de mim é a surpresa”. 

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