Arte Popular

Relatos da Pandemia: Museu Théo Brandão inova para manter-se ativo em tempos pandêmicos

Tudo acertado para três exposições e continuação do novo projeto “Varanda Musical” no Museu Théo Brandão. Equipe motivada para quem sabe uma das mais significativas mostras individuais dos últimos tempos. Visita técnica ao ateliê do artista alagoano Delson Uchôa. No pátio do Museu, os primeiros gritos de carnaval.  Mamãe acordava do seu hibernar momesco para fazer a alegria dos seus filhinhos.  Gil Lopes, José Carlos, Homero Cavalcante, Eraldo Ferraz, Ronaldo de Andrade e seus irmãozinhos atentos aos detalhes do grande baile dos Filhinhos da Mamãe. Os foliões devidamente caracterizados se divertiam ao som das tradicionais marchinhas de carnaval. Era o cenário perfeito para um ano de grandes acontecimentos. Mas, fomos todos pegos de surpresa com a ameaça de um vírus mortal que se mostrou potente fazendo vítimas, dizimando famílias, destruindo a economia, escancarando a fragilidade da nossa política e do nosso sistema de saúde, testando nossa fé e esperança.  Em meio a todos esses acontecimentos, o diretor do Museu Théo Brandão, Victor Sarmento, e sua equipe precisaram reunir forças para se manter motivados e não deixar que o legado de Théo Brandão fosse mais uma vítima do vírus.

Mas, como pensar em cultura em tempos de pandemia? Ferreira Gullar já profetizara em seus versos “A arte existe porque a vida não basta”. Arnaldo Antunes em sua composição “Comida” tem a melhor das definições sobre nossas outras fomes.  “A gente não quer só comida/ A gente quer comida, diversão e arte/ A gente não quer só comida/ A gente quer saída para qualquer parte/ A gente não quer só comer/A gente quer prazer pra aliviar a dor…”.

E foi pensando em aliviar a saudade do alagoano que o Museu Théo Brandão se abriu para uma outra dimensão: o universo virtual. Deixando o alagoano a um clique de distância de sua história e das manifestações culturais de seu povo. Numa parceria com a empresa de comunicação Núcleo Zero, disponibilizou seu acervo para visitas virtuais em 360 graus durante o período de isolamento social, medida adotada como forma de prevenção ao novo coronavírus. AQUI!

Foto: Renner Boldrino
Foto: Renner Boldrino
Foto: Renner Boldrino
Foto: Renner Boldrino
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Foto: Renner Boldrino
Foto: Renner Boldrino

“Nesse momento, em que a pandemia está estabelecida, é também um modo de continuar uma ligação entre o público, o museu e consequentemente a cultura alagoana”, disse o diretor do MTB, Victor Sarmento, na ocasião do lançamento da plataforma. “No cenário de Alagoas, o Museu Théo Brandão está na vanguarda ao apresentar o seu circuito museológico virtualmente para o público. Esse tour vem para mostrar que o Théo Brandão, mesmo em tempo de pandemia, não perdeu o contato com o público, ainda que de forma virtual, abrindo suas portas, agora, para o mundo inteiro”, ressaltou a museóloga Hildênia Oliveira.

Segundo Victor, o período de isolamento foi momento também para trabalhar em um projeto de restauro do Museu, o último trabalho de restauração aconteceu há quase vinte anos, iniciado em 2000 e concluído em 2002. O projeto atual foi realizado pela arquiteta do Museu Théo Brandão, Cynthia Fortes, e pela arquiteta restauradora e professora da Ufal, Adriana Guimarães. Além do MTB, estão incluídos no projeto de restauração dos equipamentos culturais da UFAL, a Pinacoteca Universitária, o Espaço Cultural, o Museu de História Natural (MHN) e a Usina Ciência.

Sarmento nos adiantou que o projeto arquitetônico é uma etapa de um projeto mais amplo do Museu, denominado “Novo Museu Théo Brandão”, cujo objetivo, além da preservação, inclui um novo projeto expográfico, a reestruturação de laboratórios e de setores administrativos, entre outros.  Segundo o diretor, a conclusão do projeto foi importante para que a equipe possa buscar recursos, seja por meio da participação em editais, seja por emendas. “Isso traz esperança em uma total requalificação do Museu para que possamos ampliar as nossas pesquisas e atender ao nosso visitante de uma forma mais atual, com uma imersão interativa, digital, colocando o Museu em outro patamar”, explica Victor Sarmento

Paralelo ao projeto de restauro, a equipe tem sido ágil ao abraçar frentes que estão sendo abertas. Desde 2020 tem realizado lives e quando a pandemia arrefeçou pôde prestar uma homenagem ao carnavalesco Gil Lopes, servidor da UFAL por 37 anos, dos quais, 23 dedicados ao Museu Théo Brandão. O artista foi mais uma vítima da covid-19. A mostra carnavalesca “Gil Lopes: carnaval que nos convém” foi uma parceria entre o Museu, o Parque Shopping e o bloco Filhinhos da Mamãe. 

Outra novidade foi a criação da “Turma do Guerreirinho”, resultado da parceria entre o Théo Brandão e o Tatipirun Atelier de Educação Patrimonial, do grupo de pesquisa Representações do Lugar (Relu), que faz parte da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Ufal. A Turma do Guerreirinho é composta por 24 personagens representativos da cultura alagoana. Entre eles, estão Guerreirinho, Diana, Théo, Armandinho e Nise. A iniciativa surgiu com o objetivo de promover ações de educação voltadas ao público infantil. Victor explica que a chegada da turma ao Museu contribuirá com o setor Educativo e de Comunicação, especialmente no que diz respeito ao público infantil. “Será uma forma de levar as informações de um modo mais eficaz e transmitir conhecimentos. ”

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Para o segundo semestre deste ano estão programadas novas experimentações narrativas, dentre elas, o projeto “Mungunzá Cultural” que ganha versão digital, passando a ser Mungunzá Virtual, com edições confirmadas para os meses de julho, agosto e setembro. Também já tem data e local marcado a realização do Prêmio Gustavo Leite, que deve ocorrer dia 02 de dezembro deste ano na CBTU, seguido de uma exposição das obras do artista popular de Belo Monte, Jasson.

O Museu também já confirmou presença no Circuito Penedo de Cinema, com exposição itinerante.  A programação do MTB se estende para 2022 com a volta do Museu vai as Ruas, a ideia é que o projeto não só vá as ruas da capital, mas também do interior do estado, levando ações educativas e parte do seu acervo ao encontro de um público que não tem acesso aos equipamentos culturais. Ainda no final de 2021 será lançado o edital da primeira Pós-graduação de Cultura Popular do Museu Théo Brandão. Victor nos conta em primeira mão que as aulas deverão acontecer no próprio Museu já no início de 2022, envolvendo um corpo docente formado por arquitetos, historiadores, designers, comunicadores, antropólogos, profissionais do direito, dentre outros.

O MUSEU


Equipamento cultural da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), o Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore (MTB) foi criado em 20 de agosto de 1975 e instalado, inicialmente, no bairro do Pontal da Barra, em Maceió.  Em 1977, a coleção do Museu foi transferida para o prédio atual, situado na Avenida da Paz. O palacete pertencente à tradicional família Machado foi construído no início do século XIX. Monumento edificado para ser residência, o prédio constituiu-se em um dos mais significativos exemplares da arquitetura de Maceió.

O nome do Museu é uma homenagem ao professor, médico e folclorista Theotônio Brandão Vilela, cuja coleção de arte popular, acervo fotográfico, folhetos de cordel, livros, discos, filmes em super-8, fitas de vídeo, slides e fitas cassete de antigas manifestações da cultura popular, que ele foi guardando ao longo da vida, foram doados à Universidade.  A maior parte dos objetos em exposição são de alagoanos, entre os quais se destacam as moringas antropomorfas do artista Júlio Rufino e as esculturas em madeira dos artesãos Antônio de Dedé e Resêndio, mas também conta com obras de artistas populares de outros estados e países.

  • Foto: Renner Boldrino
  • Foto: Renner Boldrino

Texto: Iranei Barreto | Fotos: Acervo do Museu Theo e Renner Boldrino

* Matéria publicada em junho de 2021 na edição 49 da Revista Painel Alagoas e uma versão compacta no Jornal de Arapiraca.

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