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Série Nossa Música: A guitarra nordestina de Edi Ribeiro

Se pudermos comparar metaforicamen uhte o trabalho musical de Edi Ribeiro a um prato culinário, certamente a matéria-prima será um fruto típico e labafericamente alagoano – e como Alagoas é a terra do mar, escolhemos o sururu. Colocando alguns temperos da região como o forró, o guerreiro e o boi de carnaval o prato vai ganhando forma. Mas o toque especial ele deixa para o final: uma cuidadosa pitada de jazz e a composição feita num power trio clássico – guitarra, baixo e bateria. Basta adicionar uma poética sofisticada e popular que a refeição sonora está completa.

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Foto: Cortesia/ Alagoas Boreal

Edi Ribeiro é maceioense, mas passou boa parte de sua infância na histórica cidade de Penedo, convivendo com as casas e construções seculares às margens do Rio São Francisco. Foi lá, na parte alta da cidade, que tomou contato com a música pela primeira vez, atraído pelo violão seresteiro de um vizinho. Além disso, escutava na vitrola de um tio desde o brega, passando por Luiz Gonzaga, Raul Seixas até o reggae internacional. “Quando vim para Maceió, lá para os 13 anos, via meu pai tocando sanfona, cavaquinho. Aí fui tomando gosto pelo forró”, diz ele.

Começou a explorar timidamente o violão com um amigo e vizinho e acabou sendo convidado por ele para se juntar a um grupo que tocava de tudo nos barzinhos de Fernão Velho. “Logo depois, o Júnior Pantaleão, que estudava comigo, me chamou pra fazermos uma espécie de matinê no restaurante da família dele que era bem tradicional lá em Fernão Velho. Eles tinham até uma banda muito famosa na época chamada Os Sociais”, lembra. “Foi aí que comecei a tocar guitarra, com 17 anos”.

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Foto: Acervo do artista

Com a empolgação do novo instrumento, Edi começou a explorá-lo com afinco tocando nas noites o repertório vastíssimo das bandas de baile. “Ainda toquei em outra banda com esse formato, mas também não durou muito. Nesse tempo o axé estava explodindo nos anos 90, ainda toquei em trio elétrico e tudo”, revela. Em seguida, as primeiras composições começaram a surgir. Com a falta de espaço para suas criações na banda onde tocava, ele partiu em busca de novos horizontes.

“Fui bater no SESC e lá encontrei uma figura, o Tércio Smith, que também tinha músicas autorais e resolvemos fazer alguma coisa juntos. Daí nasceu o Cumbuca”. O apelido Pica-Pau, o qual carrega até hoje, também nasceu nesse período tão fértil e importante para sua carreira musical. A primeira formação do Cumbuca foi montada em 1998, mas depois de algumas trocas a banda se firmou e começou a repercutir no cenário musical alagoano no começo dos anos 2000.

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Capa do CD do grupo Cumbuca

“Começamos a gravar o disco e o Tércio era quem cantava. Ele passou um bom tempo fora viajando com grupo Transart e eu fiquei trabalhando nos arranjos e nas gravações. Quando ele chegou para gravar as vozes ele me disse, com aquele jeito bem ‘viajão’ dele que não dava mais para ele e que eu continuasse”.

Depois do choque e de uma semana de intervalo, Edi resolveu tomar a frente e assumir o microfone de vez. “Foi assim que comecei a cantar e terminei a gravação desse disco já em 2006, chamado Ziguezaguear”. Com o disco, fez vários shows, inclusive fora do estado e participou de projetos e festivais até 2008, quando o grupo se desfez.

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Foto: Divulgação. Grupo Cumbuca.

Após isso, Edi refletiu um tempo sobre como iria dar seguimento a sua carreira. “Ainda me apresentei como Cumbuca com músicos contratados, mas não era a mesma coisa”, lembra. Nesse meio tempo, continuou compondo e viu nos festivais uma grande oportunidade para mostrar seu trabalho. Em 2009, venceu o Festival da Ufal com a canção “Segredo da Vida”, no ano seguinte ficou em segundo lugar com a salsa “Atenção”. Outras composições como “Nada vezes nada” e “Labafero alagoano” também figuraram em festivais.

“Tudo isso me deu a vontade e a certeza de continuar me apresentando como minha identidade secreta”, brinca. “Todo mundo me conhecia como Pica-Pau e agora estão se acostumando com o Edi Ribeiro”. Apesar do pouco tempo desse novo ciclo, Edi vem colhendo ótimos frutos tocando em casas noturnas como a Comadre Fulô e o Zeppelin. Apresentou o show “Eu no baião de dois” no final de 2016 no Projeto Palco Aberto e no Pôr do Sol Cultural. “Além disso, venho trabalhando no disco que tem o mesmo nome do show desde 2015”.

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Foto: Divulgação

Para ele, o grande desafio dessa nova fase é concentrar todas as sonoridades do vastíssimo ritmo nordestino em sua guitarra. “Incorporar o molejo da sanfona ou o floreio de uma flauta no meu instrumento vem sendo um trabalho bastante árduo, mas, ao mesmo tempo, prazeroso e recompensador”. Admirador de jazz e da sanfona sofisticada de Dominguinhos, ele também traz um pouco dessa sonoridade para seu forró guitarrado. “Esse projeto (Forrojazz) é bastante interessante porque o jazz é que será abarcado e adaptado para o forró”.

Hoje, Edi Ribeiro enxerga sua carreira na música traçando um caminho. “Consigo me ver um pouco mais maduro e convicto no que eu quero fazer com a música. E estou muito ansioso pra finalizar de vez o disco, lançá-lo tanto física como digitalmente, e apresentar a proposta dele tanto aqui como em outros lugares”, afirma.

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