Quando Paulinho – menino arteiro e que dava muito trabalho aos pais – deitava a cabeça viajante no travesseiro à noite, sempre pedia a seu anjo da guarda uma varinha mágica que acabaria com seus problemas (notas vermelhas no boletim, dores de ouvido e os machucados decorrentes das brincadeiras de rua eram os mais comuns). Dia após dia, ele acordava e se desapontava com o pedido não atendido. Alguns anos depois, o jovem Paulinho – pintor, marido e pai – colocava a filha Savana para dormir e ia trabalhar em suas telas. Uma noite comum igual àquelas de sua infância. Mas, quando seus olhos fitaram o brilho da luz da luminária no pincel empunhado em sua mão, ele notou, emocionado, que já era um mágico há muito tempo, mesmo sem ter percebido. O Aqui Acolá se rende à sua magia e o homenageia como o artista especial de novembro.

Natural de Maceió, Paulo Caldas já demonstrava uma sensibilidade artística desde criança. “Lembro que gostava de ver as bolas de Natal que a minha vó pendurava na árvore e ficar viajando nas cores e nas luzes”, afirma. “Todo dia eu julgava uma mais bonita que as outras, apesar de serem as mesmas”. As cores e as tonalidades também despertavam sua curiosidade na natureza. No final da tarde, ele sempre parava as brincadeiras para tentar capturar com o olhar a passagem entre o dia e a noite no horizonte. “Na hora, alguém sempre me distraía e eu perdia o momento. No outro dia, lá estava eu tentando novamente”, lembra ele, rindo.


Curioso, Paulo seguiu vivendo, pensando e viajando, seja com a música, poesia ou pintura.
“Sempre gostei muito de ler e de escutar, principalmente. Tanto que quando perguntam sobre as influências que tenho no meu estilo de trabalho, eu digo que fui muito mais influenciado pelas coisas que li e escutei do que por outros pintores”, revela.
Além disso, avesso à escola e ensinamentos, quase sempre trilhava seus caminhos por conta própria. Foi assim com o violão, o desenho e a pintura. “Com 19 anos eu estava em São Paulo e fui ter aulas num ateliê. Mas quando o professor pedia pra eu copiar um retrato, no meu papel saía tudo menos o rosto da pessoa”, fala. “Quando eu descobri essa limitação, meu horizonte se abriu porque eu percebi que eu poderia explorar o meu próprio mundo”.
E esse mundo particular, surreal e multiartístico incluem o desenho, a pintura, a poesia e a música. A inspiração chega como um espírito, um santo, uma voz falando-lhe aos ouvidos. E o processo é tão intenso que ele compõe as linguagens quase que ao mesmo tempo, uma atropelando a outra. Um acidente com a tela que esteja pintando pode lhe despertar a vontade de escrever e, já ao final da poesia, uma música venha quase instantaneamente.



Na arte visual, apesar de ser reconhecido como um dos pintores que mais sabe trabalhar com as tonalidades de cor, ele revela que o que mais lhe dá prazer é misturar o grafite e o nanquim em tons de preto e cinza. “Gosto de trabalhar com óleo, com acrílica, mas a minha praia é o preto e branco”.
Após esse período em São Paulo, passou um tempo em Brasília que foi determinante para seu futuro como pintor. “Fiquei na casa de um tio meu que me incentivou a começar a pintar em tela. Ele comprou pincéis, tintas e umas 20 telas para que eu pintasse na casa dele. Eu sei que só saí de lá depois que produzi as 20”. Paulo voltou pra Maceió com as pinturas na bagagem e, quando chegou, viu um anúncio de pauta para exposição no Teatro Deodoro.
Conseguiu o espaço e essa primeira exposição individual com as telas que fez em Brasília rendeu-lhe o respeito e admiração dos amigos e da família, além de servir como um cartão de visitas para um pintor novo que chegava ao circuito das artes plásticas alagoanas cheio de força e expressividade. “Aquilo foi extremamente importante porque me deu uma base, eu senti segurança e firmeza no que estava fazendo. Foi aí que despertei e percebi de verdade que eu era artista e era isso que eu tinha que fazer”.
As obras de Paulo fazem com que o expectador expanda os sentidos, sejam visuais e/ou mentais. Isso se dá tanto pelos elementos do céu e do espaço que estão sempre presentes em seus desenhos como pássaros, estrelas e luas, quanto pelo surrealismo e o mundo mágico que ele retrata.
Intervenção – Aqui Acolá
A intervenção na marca do Aqui Acolá é um bom exemplo do traço marcante e do universo de Paulo Caldas. “O blog vem dando uma divulgação e uma importância muito grande para o meu trabalho e de outros artistas, como eu venho acompanhando”, diz ele. “Eu imaginei o Aqui Acolá como se fosse um ninhal de acolhimento da cultura, uma coisa de aconchego, de pegar e cuidar, de fazer crescer”, conclui.
o que dizer, diante de tamanha generosidade? obrigado. muito obrigado iranei barreto e nicollas serafim…
Adorei a matéria e pude até descobrir alguns detalhes sobre a sua trajetória que até eu, filha há 30 anos, desconhecia. 🙂 Parabéns pelo trabalho, Iranei e Nicollas. 😀
Após sua passada por Minas Gerais, em especial em Ipatinga,
há 26 anos, atesto que seu trabalho prossegue com a consistência mesma pra melhor…