Se existisse uma máquina que nos transportasse através do tempo e pudéssemos desembarcar em 1938, ano em que Orlando Silva foi aclamado “Cantor das Multidões”, não acreditaríamos que o Centenário do artista passaria quase despercebido não fosse à impressa e algumas poucas homenagens. Hoje, 03 de outubro, comemora-se 100 anos de nascimento do cantor brasileiro, considerado o maior dos intérpretes da Era de Ouro do Rádio.
Orlando nasceu em 1915, na estação do Engenho de Dentro, subúrbio, hoje Rua Augusta. Era filho de Balbina Garcia e José Celestino da Silva, um dos músicos que tocavam com Pixinguinha, que também era ferroviário.
“Eu na verdade
Indiretamente sou culpado
Da tua infelicidade
Mas se eu for condenado
A tua consciência será meu advogado
Mas evidente…mente..”
(“Errei, erramos” )
Nascido numa família pobre, teve infância difícil, problemas de saúde e perdeu o pai aos três anos de idade. Autodidata, começou a chamar a atenção pela voz quando era cobrador de ônibus. Foi levado ao rádio pelo ídolo Francisco Alves.
O artista cantou e encantou com sua voz. Fez história, tornando-se o primeiro ídolo de massa da música e do rádio brasileiros. Os auditórios espalhados pelo país ficaram pequenos para suas apresentações. Foi então, que passou a se apresentar em praças públicas. Clássicos como “Carinhoso”, “Lábios que Beijei”, “Rosa”, “Abre a Janela” e “Alegria” são até hoje associados às interpretações irretocáveis de Orlando.
“Eu chorarei amanhã
Hoje, eu não posso chorar
Um dia pra gente sofrer
O outro, pra desabafar
Eu chorarei amanhã
Hoje, o que eu quero é sambar!”
(Eu Chorarei Amanhã)

Orlando Integrou o elenco principal da Rádio Nacional já no momento de sua criação, em setembro de 1936, e foi um dos responsáveis por seu sucesso e consolidação. Em 1937, já era uma das maiores estrelas da RCA Victor, que tinha no elenco artistas como Carmem Miranda, Silvio Caldas e Chico Alves.
“Lábios que beijei
Mãos que afaguei
Numa noite de luar, assim,
O mar na solidão bramia
E o vento a soluçar, pedia
Que fosses sincera para mim.”
(Lábios Que Eu Beijei)

Seu primeiro grande sucesso é “Lábios que beijei”, valsa-canção de J. Cascata e Leonel Azevedo. Seu período de maior sucesso durou apenas 7 anos, entre 1935 e 1942. A partir daí, a droga e o álcool acabaram com sua voz.
Certo dia ao ser questionado sobre o declínio de sua carreira, ele conscientemente pontuou: “Não há quem permaneça e fique eterno na crista. Não pode se manter um ídolo na crista. Eu fiquei muito tempo.”
Um juramento falso
Faz a gente sofrer
Um sorriso fingindo
Dos labios de uma mulher
Quando se tem amizade
Sofre-se dor de verdade
Sempre com os olhos
Fitos na felicidade
(Um Juramento Falso)


Orlando inspirou grandes nomes da nossa música, a exemplo de Nelson Gonçalves, Lucio Alves, Roberto Silva, João Gilberto, Roberto Carlos, Caetano Veloso e Paulinho da Viola, só para citar alguns.
Dirigido por Dimas Oliveira Junior e Felipe Harazim, o documentário “ORLANDO SILVA – O Cantor das Multidões”, uma realização da WeDo Comunicação e da Rede STV SESC SENAC, traz depoimentos de personalidades, biógrafos e do ator Tuca Andrada. Assista aqui na íntegra!