
Lançado em setembro de 2021, Quase Erótica é um disco recheado de batidas dançantes, pitadas de humor, libido e ironia, sem deixar de lado o viés contemplativo tão característico das músicas de Cris Braun. A artista voltou-se para si e seu passado, mas com o olhar maduro do presente para entregar um trabalho alegre e atual. O Aqui Acolá conversou com Cris e com o produtor Dinho Zampier sobre as ideias e execuções do álbum.
Segundo Braun, a ideia surgiu de maneira lúdica em tempos pandêmicos. Gravado no estúdio montado em sua casa por ela e Dinho, a artista conta que “ao aprender a mexer no meu estudiozinho caseiro tudo que vinha era neste sentido pop-rock”. O caminho de revisitar o passado está presente no fato de que as músicas são em maioria do repertório de sua primeira banda cult Sex Beatles, integrada por ela no Rio de Janeiros nos anos 90. “Essas canções são do principal compositor da banda, Alvin L (um gênio!!). Além delas, no disco também tem uma atual e inédita minha e de Billy Brandão (guitarrista dos pop stars pelo Brasil), uma com George Israel (Kid Abelha) e com a Tigra (Luciana Pestano)”.
O primeiro single saiu um mês antes, em agosto. “Tudo você queria saber sobre si mesmo” de autoria de Alvin L é ainda a canção que abre o disco e ganhou videoclipe. Gravado também em sua casa e dirigido por Henrique Oliveira, com direção de arte, figurino e cenografia da própria artista e Silvana Matos. O trabalho pode ser ouvido nas plataformas de música por streaming e foi lançado pelo selo LAB344. “O disco é todo digital, até porque ninguém mais escuta CD nem tem aparelhos”, afirma Cris.
“Senti um desejo de dançar, de falar para mais gente, de estar num palco pop rock me divertindo e alegrando corações neste disco. Quis sentir e passar vida, humor e pimenta! Refleti bastante sobre a falta de hormônios da menopausa, percebi uma nova forma de erotismo, libido e tesão. Daí o humor do ‘Quase Erótica’”
Além da produção feita com Dinho Zampier, o álbum contou com a mixagem e masterização de Jair Donato e com participações dos músicos Billy Brandão (guitarras e violões), Jam da Silva (percussão), Natan Oliveira (sopros) e do próprio Dinho. Além disso, foi feita uma animação dirigida e produzida por Midinhas Produções (Maria Ida Salasar e Afra Roessler) da canção Aprender, que também foi lançada como single.
“Meu envolvimento com o Quase Erótica começou a partir do momento em que a Cris me chamou pra montar um estúdio na casa dela”, lembra Dinho Zampier, tecladista bastante ativo no cenário musical alagoano. “No dia seguinte ao estúdio montado, a gente já começou a criar texturas, ritmos em algumas harmonias e o trabalho surgiu a partir desse ponto”. Ele comenta que o álbum é repleto de pitadas de rock n’ roll, tanto nacional dos anos 90 quanto do clássico dos anos 60. “As letras das músicas são altamente modernas, encaixam nas relações atuais”, opina. Além de produzir junto com Cris, todas as 9 faixas Dinho ficou responsável pelas programações das baterias, tocou baixo e teclado.
“Outro processo interessante foi na mixagem e masterização. Antigamente a gente fugia das coisas feitas aqui em Maceió nesse quesito, mas evoluímos e isso foi muito bom. Conseguimos fazer aqui com a qualidade pau a pau do que se toca nas rádios, isso se deve ao Jair Donato, cara muito experiente e que ultimamente vem deixando sua personalidade nos trabalhos autorais dos artistas”, revela Dinho.
Trajetória
Cris nasceu em Porto Alegre, passou a adolescência em Maceió e a juventude no Rio de Janeiro desde 1980, retornando à capital alagoana em 2005. Com a Sex Beatles gravou dois álbuns e partiu para carreira solo. A canção “Como é que eu vou embora” foi gravada pelo Kid Abelha e elevou seu nome como compositora. Nesse período, gravou seu primeiro disco, Cuidado Com Pessoas Como Eu, lançado em 1997. O segundo trabalho solo, Atemporal, tem uma aura mais introspectiva e saiu em 2005. Já Fábula, de 2012, foi gravado entre Maceió e Rio de Janeiro, com uma boa mistura entre os músicos das duas cidades. E seu último trabalho, Filme, de 2017 é assinado em parceria com Dinho Zampier, e foi proposto como uma trilha sonora de um filme que não existe, pelo menos física e materialmente. O resultado é uma viagem sonora e imaginativa única para cada ouvinte-espectador.
Quase Erótica, seu quinto álbum, foi feito para ser leve e alegre. “Um flashback atualizado e projetado no futuro”, revela. “Para mim, Quase Erótica é um balaio de amizade e referência. É um disco muito positivo com um astral bem pra cima”, diz Dinho. “Divertido de produzir, de tocar, de gravar e de ouvir também”.
“Quero voltar aos palcos com uma pegada mais relax, sem precisar de grandes estruturas e cenários – pop rock de sentar e fazer! O disco significa também (e principalmente) a resistência nestes tempos de destruição da cultura – tempos negros”, desabafa Cris. Ainda refletindo sobre o cenário atual, tanto social quanto musicalmente falando, a artista vê coisas boas e ruins. “É legal você conseguir produzir sem precisar de grandes estruturas, vejo como rico esse cenário. Só acho confuso se situar no mercado quando a vida é dentro de uma tela de celular”, pensa. Seus planos são de voltar aos palcos e às ruas com suas novas músicas no início de 2022.
*Texto: Nicollas Serafim | Revisão e edição: Iranei Barreto | Crédito das imagens: Henrique Oliveira
Link para ouvir Quase Erótica – crisbraun.lnk.to/tqvqsssmID
Instagram – @crisbraunoficial