Limoeiro de Anadia é uma tradicional e histórica cidade do agreste alagoano. Jackson Lima, artista visual atuante e filho ilustre do município, decidiu utilizar Limoeiro como inspiração, pano de fundo e próprio palco para a sua exposição “Ressignificando – Idas e Vindas”. Em cartaz até 22 de agosto na cidade, a mostra é dedicada aos acontecimentos, culturas e tradições de uma cidade do interior, com grande carga biográfica do artista misturada ainda com um viés ecológico e ambiental.
Jackson Lima é um artista que desenvolveu por conta própria seu saber e fazer artístico. Começou com a pintura e o desenho, mas foi com a escultura que seu trabalho ganhou força e visibilidade. “A necessidade da tridimensionalidade libertou seus personagens dos suportes bidimensionais”, descreve Alice Barros, curadora da exposição em parceria com Robertson Dorta no texto de apresentação da mostra. Suas esculturas originais chamam a atenção pelos detalhes visuais e técnica singular. “Em seu ateliê Simbiose, instalado no Sítio Se Eu Soubera localizado no povoado Tipi, vive em comunhão com a natureza e os ‘seres’ do lugar”.

Segundo Alice, a curadoria foi concebida com base na poética escolhida pelo artista, entre os anos de 2020 e 2021, por meio de conversas à distância (trocas de imagens, ideias, poemas e músicas) e visitas presenciais ao ateliê. “A minha história na arte começou muito cedo, através de muita luta e insistência. Tudo isso gritava dentro de mim, eu só arrumei um modo de botar para fora através da arte”, comenta Jackson.
Os itens utilizados para confeccionar as peças são materiais reciclados e reutilizados pelo artista, como arames, plásticos, madeiras e embalagens usadas. “Um dos objetivos é mostrar ao público o que pode ser feito com o lixo que produzimos, as saídas e soluções para a diminuição dos impactos ambientais”, revela Jackson. “Daí também o título da exposição –Ressignificando Idas e Vindas. É a minha cidade sendo retratada através da arte , do reaproveitamento de materiais e a exposição acontece na escola que dei os meus primeiros passos pro aprendizado”.
“As esculturas foram construídas a partir de resíduos colhidos, selecionados e ressignificados ao longo do caminho. Na travessia de anos experimentando materiais recicláveis, o artista vem encontrando, de forma criativa, um significado nobre para adaptar os variados formatos que se apresentam em cada coisa descartada, sendo essas, recipientes de plástico, vidro, acrílico e até a transformação de papéis e tecidos que se alteram e ganham uma aparência rústica de metal envelhecido”, expõe Alice Barros.
“Todas as obras foram produzidas a partir de um ponto, um objeto a ser ressignificado. Por exemplo: um vidro de perfume já dá a ideia de uma base para a escultura ganhar vida, o que já foi projetado através da minha mente se materializa”, revela Jackson.
Em cartaz desde o mês de julho na Escola Municipal Maria Júlia Ferreira de Albuquerque, a mostra teve o apoio da prefeitura da cidade e foi contemplada no Edital Prêmio Vera Arruda, realizado no ano passado pelo Governo Estadual de Alagoas, por meio ainda da Lei Aldir Blanc. Segundo o artista, Limoeiro de Anadia é inspiração fundamental para a exposição e para suas obras. “As idas e vindas para a escola, para a usina plantar cana, adubar, limpar, cortar e às vezes juntar o que a carregadeira não pôde apanhar”, afirma. “As idas e vindas para a roça plantar feijão, milho e algodão; para as propriedades de fumo trabalhar desde a planta à colheita. As idas e vindas pra vida, tudo que vivi, vi, vivo e sinto… É passar a mensagem de que tudo pode ser ressignificado, inclusive a vida”.
“Idas e vindas ressignifica o fim, os rastros e restos do utilitário, nos fazem refletir, quais as políticas públicas que estão sendo por nós exercidas quanto à preservação do meio ambiente?”, indaga Alice Barros. “Com a assinatura de seu figurativo bruto, realçada pelas impressões expressas de seus personagens, Jackson Lima nos faz lembrar as obras de Candido Portinari, Lasar Segall e Vincent van Gogh, ao retratar, contextualizar o social, contar-nos histórias de famílias à margem, em cenas de trabalho, é um prefácio a ser lido, o começo de um livro esculpido”.
O lançamento da exposição aconteceu no dia 21 de julho, dia em que o artista comemorou também seu aniversário de 55 anos, e contou com uma apresentação teatral, cuja temática e contexto eram compartilhados com as principais obras expostas, representativas do público feminino. “Convidamos a atriz e cineasta Dayane Telles e foi tudo muito interessante”, diz ele.
O público da cidade vem se surpreendendo desde então. “Mesmo se tratando de um artista local, a grande maioria das pessoas não conheciam o meu trabalho e as façanhas que uso pra fazer arte”, comenta Jackson. “A exposição tem tido boa repercussão, o público tá visitando, gostando, interagindo e compartilhando muito”. Apesar do momento difícil para os segmentos artísticos vivenciado pela pandemia e pelo isolamento social, Jackson revela a importância da realização deste trabalho.
“A exposição representa um marco na minha vida porque aconteceu num momento ruim de pandemia, de distanciamento e isolamento. As medidas tomadas serviram para arte e artista respirarem mais profundamente a vida”. O artista também destaca a importância de ter seu trabalho reconhecido localmente, dentro do seu ambiente de vida. “Gratidão a Deus pela oportunidade de poder mostrar aos limoeirenses principalmente o homem que me tornei e sou”, conclui. “Que nada do que tenho foi furtado ou herdado, foi puro mérito. Arte é isso, se não for de dentro é cópia”.
Segundo a Prefeitura de Limoeiro de Anadia, devido à pandemia da Covid-19, a visitação deve ser agendada previamente pelo telefone (82) 98121-8720. As visitas ocorrem de segunda a sexta, das 10h às 12h e das 14h às 16h e prosseguem até o dia 22 de agosto.
*Texto: Nicollas Serafim | Revisão: Iranei Barreto | Créditos das Imagens: Robertson Dorta e acervo pessoal do artista Jackson Lima