Simpatias e orações, amuletos e maldições – temas pesados e difíceis como o machismo e a opressão são tratados através da poesia e do bordado, misturando revoltas e delicadezas. Tudo isso está em cartaz na galeria do Sesc Centro em Maceió. A exposição “Amarrações” é de autoria do Coletivo BaD, do Rio de Janeiro, cuja proposta é mostrar a face oculta da sociedade, desmascarando-a através da sutileza e sagacidade da arte.




Maceió é a primeira cidade a receber “Amarrações”, que contém uma série de obras em técnica mista utilizando o bordado e outras linguagens têxteis em séries e instalações. Segundo as artistas:
“Amarrações traça e trama um painel de narrativas simbólicas – feitiços, simpatias, maldições, orações, amuletos, ex-votos – sejam elas populares ou secretas, religiosas ou seculares, sagradas ou profanas”.
Com dois anos de início, o coletivo BaD (sigla para Bordado a Distância) é formado por Bárbara Martins, Giovanna Giffoni e Thay Kleinsorgen que explora técnicas diversas de bordado e demais linguagens em tecidos. Para elas o objetivo do grupo é “pesquisar as possibilidades narrativas do bordado como texto para além das metáforas de tecido e tessitura”.



Segundo Bárbara, a exposição evoca a força do feminino. “A força que se mostra sem se mostrar velada (ou não velada), mas que com uma leveza consegue trazer coisas que só seriam possíveis a partir daí”, diz ela.
“O mais interessante é utilizar o bordado, que tem esse elemento popular de tradição feminina recatada, porém se você estudar mais profundamente a história dessa manifestação vai ver que ela atrai mulheres muito potentes”, comenta a analista em artes visuais do Sesc Alagoas Kelcy Ferreira. “Elas se utilizam do bordado como apoio para união e fortalecimento mútuo”.



Para Kelcy, a recepção do público é sempre inesperada. “Temos recebido as pessoas aqui na galeria, através de um trabalho de mediação, e conversando a gente percebe que tem muita gente que se inquieta, que relembra situações da própria família de opressão, humilhação ou violência”, diz Kelcy.
“Fico bastante feliz quando homens vêm olhar a exposição. Inclusive ouvi de um visitante que todo homem deveria vir visitá-la”, revela Kelcy.
A exposição tem classificação para 16 anos, foi inaugurada em 18 de outubro e fica à mostra até 14 de dezembro, com entrada franca.
*Texto de Nicollas Serafim | Produção e revisão: Iranei Barreto | Fotos: Nicollas Serafim e Robertson Dorta e Ascom/ Sesc Alagoas