Em pouco mais de um ano de apresentações, a peça Se TuBarões Fossem Homens chocou públicos, provocou embates e pôs para fora, do fundo da garganta, inúmeros gritos de revolta e manifesto contra as injustiças do decadente cotidiano nacional. Depois de ocupar palcos e espaços alagoanos, o grupo partiu para encenações no Rio de Janeiro e São Paulo, carregando no peito e na bagagem a indignação e resistência do teatro alagoano.

O espetáculo é uma produção coletiva da Ozinformais Cia Artística, baseado no texto “O mendigo e o cachorro morto” de Bertold Brecht. O diretor e produtor Carlos Alberto Barros começou a estudar e trabalhar o texto em 2008 e vinha, desde então, buscando os atores que se encaixassem à peça para, finalmente, encená-la. São eles Alexadrëa Constantino, Ana Antunes, Carol Eller e Ticiane Simões. Participam ainda do espetáculo Silvio Leal na execução de sonoplastia e Lilian Barbosa no figurino.
“Por coincidência quando todo mundo que participa deste trabalho voltou dos seus ‘exílios’ de Rio, São Paulo, Minas, para Maceió, o Brasil explodiu”. Com as pessoas certas e o cenário propício, a companhia estreou em 22 de setembro de 2016 no Rex Bar em Maceió o espetáculo revoltado, provocativo e vomitado. “Sem ideias de agradar, é pra incomodar mesmo”, diz Carlos. Para ele, não interessa se quem está assistindo comunga da mesma ideologia dos artistas. “Analisando hoje eu acho a peça muito violenta. Mas eu não mudaria nada, nem mudarei”.



A companhia Ozinformais foi fundada em 20 de março de 2003, ainda com outro nome, formada por pessoas recém-saídas da universidade e com muitas ideias de fazer teatro. “Não tinha a menor noção do que era teatro na época”, lembra Carlos. “Fazíamos a arte, mas a noção que tínhamos era outra. A essência veio se moldando com o tempo”. De 2008 a 2015, Ozinformais saíram de cena, mas somente para voltar com tudo nos últimos dois anos. “Hoje o grupo pode dizer que trabalha com uma linha, mas que foi descoberta há muito pouco tempo”.
“Sabendo que um projeto político não eleito democraticamente chega ao poder através de um golpe midiático/parlamentar, o espetáculo/manifesto emerge do desejo e necessidade de suscitar a inquietação”, diz o livro do espetáculo. “Improbidade administrativa, corrupção, nepotismo, crimes raciais e de gênero, machismo (misoginia, homofobia, transfobia), golpe contra o estado democrático de direito, abuso de poder pela polícia militar, censura de liberdade de expressão no âmbito educacional (Lei da mordaça), exploração da fé. A coexistência desses fatores em lugares diversos, porém num mesmo espaço temporal faz emergir nesses artistas a necessidade de questionar o cenário opressivo em processo de consolidação através do teatro”.




O trabalho percorreu todos os teatros de Maceió, além de espaços alternativos como o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), ocupações em escolas e nas ruas. No final de 2017, embarcou para algumas apresentações em São Paulo e Rio de Janeiro. Na capital carioca, o boom aconteceu no Teatro Ipanema, que já tem uma grande história por ser um teatro de resistência. De lá, partiram para outras cenas como os morros da Rocinha. Já em São Paulo a peça rodou mais por grupos de teatro.
Para 2018, um novo trabalho está engatilhado – A paixão de Cristo – mas de um jeito diferente. “Depois do Carnaval entramos na Quaresma e vamos apresentar A paixão de Cristo só com mulheres”, diz o diretor. “Também sob o ponto de vista delas – Maria, Madalena, Verônica, Salomé”.
“A reação das pessoas é bem diferente umas das outras. Algumas ficam paralisadas, sem saber o que fazer, outras vêm nos confrontar. Mas na verdade eu me preocupo pouco com o que eles vão digerir com a porrada. Eu quero que eles vejam, gostem, discordem, aprendam”, comenta Carlos.


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