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Cultura e memória na exposição “Quebra 1912”

A exposição teve início no dia 6 de novembro e vai até o dia 29 no Misa, que fica situado na Praça Dois Leões, no bairro histórico de Jaraguá em Maceió.

Novembro é o mês da Consciência Negra; e para marcar e homenagear a cultura afro-brasileira que tanto ajudou a formar nossa identidade, o Museu da Imagem do Som (Misa) abre suas portas seculares para a exposição “Quebra 1912” do artista visual Persivaldo Figueirôa. A mostra se propõe a contar ao público um pouco desta história em Alagoas e segue aberta à visitação gratuita até o dia 29 de novembro.

Aqui Acolá - Quebra 1912 - Hugo Taques
Foto: Hugo Taques

O título da exposição remete ao fatídico episódio ocorrido em 1912, onde os principais terreiros de candomblé de Maceió foram destruídos por integrantes de uma milícia formada por veteranos de guerra e políticos. O fato acarretou em conseqüências irreparáveis para as religiões de matriz africana na cidade, reverberando, inclusive, nas manifestações culturais populares alagoanas no século XX. “A intolerância e o preconceito às práticas religiosas de matrizes africanas não conseguem se libertar em sua totalidade e aquele fevereiro de 1912 respinga em dias atuais”, diz Persivaldo. “A exposição faz uma ligação entre o acontecimento e a exaltação a Iemanjá”.

Quebra 1912 tem a curadoria do professor, cenógrafo, bonequeiro e artista visual José Acioli Filho. “É um misto de alternância entre telas, pedras, papeis e materiais em desuso”, comenta ele no texto curatorial. “Figueirôa emprega signos enraizados na cultura afro-brasileira com inspirações que encontra campo fértil nas ferramentas, instrumentos e imagens do candomblé”.

Aqui Acolá - Quebra 1912 (20)
Foto: Nicollas Serafim /Aqui Acolá
Aqui Acolá - Quebra 1912 (24)
Foto: Iranei Barreto/ Aqui Acolá

As 21 obras, entre instalação, pinturas, esculturas e objetos são dispostas a criar uma atmosfera de um terreiro de candomblé. “Seus sons, o cheiro, a plasticidade do lugar e toda energia que geralmente encontramos nesses locais”, afirma Persivaldo. “Como se trata de um fato histórico, alguma coisa teria que remeter aquele momento. E assim fiz uma instalação e pintei uma tela mais específica que reproduz a Tia Marcelina, conhecida mãe ialorixá que foi torturada à época”.

De acordo com o artista, a exposição também tem o intuito de abordar o preconceito e a intolerância. “Depois de 105 anos do acontecido, nada mudou. E se mudou foi pouco”, desabafa.

A exposição acontece em um momento histórico para Alagoas com o fato da Serra da Barriga se tornar Patrimônio Cultural do Mercosul. E com a exposição, o assunto Quebra de Xangô volta à cena, desperta o interesse do público e algumas rejeições, o que demonstra que a intolerância e o preconceito é bem maior do que eu poderia imaginar”.

Aqui Acolá - Quebra 1912 (9)
Foto: Nicollas Serafim /Aqui Acolá
Aqui Acolá - Quebra 1912 (10)
Foto: Iranei Barreto/ Aqui Acolá

Outra questão abordada pelo artista é o descarte e o reaproveitamento de materiais. “As peças foram construídas com muito material retirado das praias. São redes, boias, tachos de barro, plástico, enfim. Muito lixo virou arte”. As esculturas também foram construídas com reaproveitamento de jornal, através da técnica de papietagem.

A temática religiosa tem presença forte e marcante na obra de Persivaldo Figueirôa. “Em 2003 apresentei a exposição Casa de Oração no Sesc, com uma outra abordagem, só comprova que através da arte essa multiplicidade de temas transitam na minha trajetória artística com muito respeito”.

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A exposição teve início no dia 6 de novembro e vai até o dia 29 no Misa, que fica situado na Praça Dois Leões, no bairro histórico de Jaraguá em Maceió. “A abertura foi muito além das minhas expectativas. Depois de tanto tempo sem fazer uma individual, me descobri ansioso como se fosse a primeira vez”, revela.

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