No momento em que o batuque pesado das alfaias, a cadência rítmica das caixas, o soar dançante dos xequerês e as marcações metálicas do agogô e gonguê se juntam, o som vibrante do maracatu ecoa e toma conta de tudo. Uma das manifestações populares mais tradicionais da cultura afro – e nordestina – o maracatu vem ganhando cada vez mais força e adeptos em Alagoas nos últimos anos, depois um longo e pesaroso silêncio. Prova disso é a realização do primeiro Encontro de Maracatus de Baque Virado em Alagoas, que acontece de 18 a 20 de novembro.

Segundo as pesquisas do folclorista Ranilson França divulgadas no CD Folguedos e Danças, lançado em 2002, fruto dos esforços de Ivan Barsand e da Associação dos Folguedos Populares de Alagoas (Asfopal), o maracatu é uma dança processional e cortejo real, parte dos reisados dos congos. A palavra maracatu é de origem africana que significa dança ou batuque. O maracatu pernambucano penetrou em Alagoas e criou formas alagoanas dessa manifestação, assim como as cambindas, o samba-de-matuto, as negras da costa, baianas e as caboclinhas.
No entanto, o sociólogo Edson Bezerra em seu Manifesto Sururu destaca a presença de grupos de maracatu em Alagoas no início do século XX, evidenciando a tradição dessa manifestação no estado.
“Acreditamos, e as evidências sinalizam nesse sentido, que a atual não existência de um carnaval de rua com uma marcante presença popular, se deve ao trauma do fenômeno da quebra dos terreiros. Antes de 1912, era comum na cidade de Maceió a presença dos cortejos dos Maracatus durante o carnaval e festas religiosas. Todavia, com a diáspora dos cultos afros, o Maracatu aos poucos foi desaparecendo e o carnaval foi se tornando uma festa esvaziada das culturas populares”.


De 10 anos para cá, vários grupos de maracatu foram tomando forma em Maceió. Dentre eles estão o Maracatu Baque Alagoano, o Coletivo Afrocaeté, o Coletivo Maracatod@s, o Maracatu Nação Acorte de Alagoas.
Para marcar o mês da Consciência Negra e fortalecer ainda mais o movimento cultural afro em Alagoas, entre os dias 18 e 20 deste mês acontece o primeiro Encontro de Maracatus de Baque Virado em Maceió e União dos Palmares. Sob a força de uma das manifestações culturais mais tradicionais e antigas do nordeste, batuqueiros, estudiosos e interessados no tema se reúnem para uma extensa programação de oficinas, mesas-redondas, palestras e apresentações.
No evento estão confirmados nomes importantes na cultura alagoana como Wilson Santos da Orquestra de Tambores, Élida Miranda e o Coletivo Maracatod@s, o Maracatu Raízes da Tradição com Mãe Vera, Doté Elias e o Maracatu Nação Acorte de Alagoas, o historiador Zezito Araújo e os antropólogos Cadú Ávila e Bruno César Cavalcanti. E grandes convidados como Wanessa Paula Santos do Centro Cultural Cambinda Estrela e o mestre Hugo Leonardo do Maracatu Nação Leão da Campina. Além dos grupos de maracatu, a banda alagoana Xique Baratinho também se apresenta.


Nos dois primeiros dias o encontro acontece na Praça Multieventos, na Pajuçara, que terá uma estrutura para receber o público. Já no dia 20 de novembro, os participantes vão até a Serra da Barriga em União dos Palmares celebrar e vivenciar de perto o Dia da Consciência Negra.
O evento é promovido pelo Maracatu Baque Alagoano, grupo atuante há 10 anos e grande responsável pela retomada do maracatu no estado. Segundo o grupo, “o Encontro de Maracatus de Baque Virado também vem para disseminar o Maracatu de Baque Virado por meio da agregação espontânea de grupos em rede, utilizando como ferramentas de socialização a musicalidade, a estética artística e a história do maracatu, a exemplo de eventos similares que ocorrem em outros estados, destacando Alagoas neste cenário, reunindo aqueles que estudam e vivenciam o maracatu, suas histórias e seu aspecto de resistência, já que o maracatu é uma das manifestações culturais mais antigas registradas na cultura afro-brasileira.”
As inscrições podem ser feitas até o dia 15 ou enquanto houver vagas e têm o valor de 30 reais para os três dias, e 20 reais para aqueles que desejarem apenas a programação em Maceió. Para se inscrever, basta acessar o formulário disponível nas redes sociais do Maracatu Baque Alagoano – http://facebook.com/baquealagoano ou @baquealagoanomaracatu no Instagram – ou preenchê-lo através deste link: https://goo.gl/forms/O69MwrEoDRVbJwLt1.
Confira abaixo a programação completa:
18.11.2017 – Sábado – Praça Multieventos
8h – Credenciamento
9h – Abertura do Encontro de Maracatus
10h – Mesa-redonda: “A cultura e a arte afro como agente modificador: O exemplo do Maracatu”
Participantes: Wanessa Paula Santos (Centro Cultural Cambinda Estrela – Recife/PE), Wilson Santos (Orquestra de Tambores de Alagoas) e Élida Miranda (Coletivo Maracatod@s)
11:30 – Apresentação Cultural: Maracatu Raízes da Tradição (Mãe Vera)
13:30 – Apresentação Cultural: Coletivo Maracatod@s
14h – Oficina de Maracatu com contramestres do Maracatu Nação Cambinda Estrela, Recife/PE
19h – Show: Maracatu Baque Alagoano
20h – Show: Banda Xique Baratinho
19.11.2017 – Domingo – Praça Multieventos
8h– Mesa-redonda: “O Maracatu em Alagoas: Desdobramentos históricos e o movimento atual”
Participantes: Cadu Ávila (antropólogo e produtor cultural), Bruno Cesar Cavalcanti (antropólogo), Doté Elias (Babalorixá e Rei do Maracatu Nação Acorte de Alagoas)
10h – Mesa-redonda: “A importância do 20 de Novembro na valorização da história e da cultura afro em Alagoas”
Participantes: Zezito Araújo (historiador), Márcio de Oxossi (Babalorixá, membro do Aburu N’ilê – juventude de terreiro), Mestre Hugo Leonardo “Tata Roxiluan” (Maracatu Nação Leão da Campina)
13:30 –Apresentação Cultural: Maracatu Nação Acorte de Alagoas
14h– Oficina de Maracatu com Mestre Hugo Leonardo “Tata Roxiluan” –MaracatuNação Leão da Campina, Recife/PE
19h– Show: Maracatu Nação Leão da Campina, Recife/PE
20:00 – Show: Coco de Besouro Mangangá, Recife/PE
20.11.2017 – Segunda-feira – Serra da Barriga
Concentração às 7h – Praça Marcílio Dias
Saída às 7:30 para União dos Palmares
Retorno a Maceió às 17:30