Germano Munganga ressignifica sua própria existência ao traduzir em telas as alegrias, angústias, frustrações, ardores e anseios vividos. As cores vibrantes e a profusão de detalhes podem a princípio não dizer muito, mas um olhar mais atento, capta a narrativa e singularidade das mensagens fragmentadas nas suas obras. O artista apresenta até 24 de novembro trabalhos inéditos na mostra “Impressão do Avesso”, em cartaz na Galeria de Artes do SESC Centro, com curadoria da produtora cultural Milla Pasan e Alisson Almeida, da Fábrica de Ideias.

o artista transforma a memória cotidiana em personagens aprisionados em telas multicoloridas e sentimentais.“Às vezes eu tenho dificuldade de expressar em palavras o que estou sentindo. Preciso de uma tela para deixar as informações”. E define seu trabalho como uma espécie de vício.
“Realmente me embriaguei nele, é minha prisão sem muros… Todo mundo tem um refúgio mental e às vezes é bom ficar nesse mundo particular e se policiar para não dá muito ouvidos a má vizinhança… acho que meu trabalho sempre foi o mesmo… Absorvo as coisas negativas e positivas, reciclo e coloco na tela”.


Para a curadora da mostra, Milla Passan, os trabalhos de Munganga são apresentados em camadas que se revelam ao olhar mais atento.
“Germano trabalha com cores muito fortes e festivas, mas dentro do contexto dele tem outra percepção. Por isso, esse olhar em camadas. Você sente o impacto da vibração das cores, mas quando fica em cada um dos trabalhos, se pergunta: Que camada é essa? O que eu consigo dialogar com essa obra? Que história eu consigo decantar desse trabalho?”
A obra de Munganga é inquieta, é pulsante; pode ser manipulada, colocada de ponta cabeça e continuará comunicado, exalando percepções. E quem sabe até contando o outro lado da história, tendo em vista que, os trabalhos são todos baseados em vivencias. Há quem diga que viver com arte é ver além do óbvio. É buscar um sentido maior para atitudes e escolhas.
“Eu vejo que esse processo de manipulação da obra está diretamente relacionado ao processo de produção do Germano, a postura. O Germano não é um pintor de cavalete, Germano é um pintor primitivo. Ele acocora ao lado da tela e fica ao redor. E isso não é uma atitude clássica”, ressalta o também curador da mostra Alisson Almeida. “Lembro que quando fui apresentado ao trabalho do Germano, ele me fez lembrar Basquiat. Tem um ar de neoexpressionismo, de selvageria”.
Para sua primeira individual, o artista apresenta uma série de trabalhos em sua totalidade inéditos, com exceção da obra “O Mendigo”, um dos destaques da mostra. São temas recorrentes, o afeto e companheirismo dos amigos, os desejos sexuais, as dores do corpo e da alma, as relações humanas, o animalesco, o escárnio, o subconsciente.
Depois da Galeria de Artes do Sesc, “Impressão do Avesso” ficará em cartaz no Arte Pajuçara nos meses de dezembro e janeiro.


Trajetória
Desde os 07 anos de idade que Germano Pereira de Lira desenha em e com absolutamente tudo que aparece à sua frente. Não à toa ganhou da mãe o apelido de “Munganga” – nome inclusive adotado por ele na hora de assinar as obras.
Menino travesso de uma família de 05 irmãos, não se deixava ser esquecido pelos pais. Dos piores quando o assunto era traquinagem. Pulava, corria, atirava pedra, trocava tapa com os moleques, pegava manga da casa do vizinho, e como se não bastasse, ainda desenhava nos cadernos da escola comprados com muito sacrifício.
E de nada adiantava as horas de castigos e corretivos quando desenhar era a pauta do acerto de contas com Dona Creuza. E ele se virava como podia. “Eu pegava folhas de cadernos dos anos anteriores, desenhava nas paredes, nos banheiros, pegava a caneta de 04 cores dos meus amigos, era tudo muito difícil naquela época”, lembra.



Era a forma que encontrava para melhor se expressar, muito embora seus desenhos não fossem compreendidos pelos amigos e familiares. E sua mãe por vezes achava mesmo que ele estava ficando louco. “Certa vez minha mãe me pegou olhando e tentando desenhar minha própria mão, ela chamou meus irmãos para dizer que eu estava enlouquecendo”, recorda.
O menino levado cresceu e junto com ele vieram às responsabilidades e as dores da vida adulta. Germano continuou desenhando, inclusive aprimorou e desenvolveu estilo próprio ao cursar Artes Visuais no CEFET, do Piauí.
Foi também cursando Artes Visuais que ele conheceu trabalhos de artistas que hoje são referências para suas obras, a exemplo do holandês Van Gogh, o artista plástico e escultor italiano Modigliani, o poeta e pintor suíço Paul Klee e os artistas brasileiros Hudson Melo e Gabriel Archanjo.
“Amo os artistas frustrados e loucos como Van Gogh, Modigliani, gosto do klee. O processo criativo deles e as formas são muito massa! Amo também minhas duas Raparigas; O Vinicius com seu traço trash, o Lucas Martins que usa a força de sua alma no pincel, pessoas humildes, amigos do meu curso de Artes. Meus olhos agradecem os trabalhos do Nicolas Elifas, do OFF e do Arthur”.
No Piauí, Munganga participou do 19° Salão de Artes Plásticas de Teresina (2012) e de algumas coletivas. Em Maceió, já mostrou seus trabalhos nas exposições coletivas: “Promissões e Outros Percursos” (2013); “Cadeira”, da Associação dos Artistas Visuais Profissionais de Alagoas (2014); no “Petit Marché”, no Centro cultural Arte Pajuçara (2015) e “Cama”, no Teatro Deodoro (2017).
A exposição “Impressão do Avesso” segue aberta para visitação até 24 de novembro, de segunda a sexta-feira, das 12h às 18h, na Galeria de Artes do Sesc Centro.
Belo Trabalho desse jovem artista. Cores vibrantes e cheias de ‘resignificados’…
Bom ver o SESC dando oportunidade a uma arte realmente verdadeira.
Parabéns, Germano Muito Munganga…
Parabéns meu amigo, sempre acreditei no seu talento…. até hoje tenho uma arte que você fez especialmente para mim.
Bjs Meiry Lins