Desde os treze anos de idade que a artista plástica Patrícia Melro já tinha certeza sobre o que desejava fazer para o resto da vida. Há quem diga que nossas decisões devem ser tomadas cedo; outras que pouca idade não nos dá consciência suficiente para fazermos grandes escolhas. E há ainda o tempo para todas as coisas. O Aqui Acolá conversou com ela sobre espera, decisões, pássaros, cores e seu futuro nas artes visuais.

Patrícia foi apresentada a arte desde que nasceu por sua avó Beth Melro. Seu pai Mário Fortes Melro, engenheiro de profissão e arquiteto nato, também era artista. Tanto o pai como a avó desenhavam e pintavam divinamente, nunca mostraram seus trabalhos em exposições.
Nos finais de semana enquanto a maioria da criançada se divertia com seus passatempos preferidos, Patrícia corria para a casa da vovó Beth e acompanhava atentamente suas produções artísticas. E foi assim por toda a infância e parte da adolescência. Aos 10 anos, Patrícia já seguia os passos do pai e da avó na pintura e no desenho. Frequentou os cursos de artes da época com Vânia Lima e Pierre Chalita.


Aos 14 anos, a alagoana precisou trocar Maceió por Recife para acompanhar a irmã em tratamento de saúde. Foi então que a roda do destino girou e levou Patrícia para longe da arte. Mas quem disse que ela desistiu do seu sonho! Fez promessas, declarou a si mesma e ao universo que um dia retomaria o sonho de se dedicar à arte.
“Na época que eu morava no Recife, um dia eu parei e disse: é um sonho que vai ficar guardado, mas um dia eu realizo”. E nunca parei de desenhar e pintar. Reduzia, mas nunca parava”, comenta.
Faculdade, profissão, casamento, filhos. A vida acontecendo e o sonho semi adormecido. A promessa ganhou novos prazos. “Quando eu fizer 50 anos, vou reduzir meu ritmo de trabalho e até lá vou estar com meus filhos criados, vou ter mais tempo… Depois foi quando fizesse 30 anos de formada”, lembra.
Filhos criados, escritório de arquitetura consolidado como um dos mais conceituados do estado e a vida tomando seu curso até que Patrícia enfim puxou a toalha da mesa. Deixando a todos incrédulos. E a roda do destino demorou exatos 42 anos para voltar ao ponto inicial em que a garota de 14 anos prometeu que um dia se dedicaria à arte.



O ano de 2017 foi o marco para sua estreia como artista visual. Coração pulsando, família ainda sem cair à ficha e eis que o grande momento acontece. Patrícia se lançou no mercado das artes com sua primeira exposição individual “Por trás do véu”, em uma galeria na capital alagoana. Agora no segundo semestre, a artista terá uma 2ª edição desta individual exposta na Pinacoteca Universitária, resultado de edital.
Explosão de cores
Patrícia é singular! Leve, olhar profundo e pensativo. Arrisco dizer que alcançou a maturidade da sua arte ao longo dos anos em que esteve no silêncio do seu ateliê, que divide com os pássaros quando reclusa e em processo criativo. A sensação ao ver uma obra dela é que além de revelar a essência da artista, diz também – estou pronta para alçar grandes vôos.



A formação em arquitetura e os 32 anos de atuação lhe renderam conhecimento técnico, além de extensa pesquisa e estudo. Mas, seu processo criativo é pura intuição.

“Realizo meu trabalho colocando nele o que há de melhor em mim, deixando que a intuição me guie. Não me prendo a regras nem técnicas, faço aquilo que meu coração pede. Quando mudo as perspectivas, crio novas possibilidades!”
No processo que ela denominou “Úmido sobre úmido”, em que trabalha com uma base acrílica e não pode deixar a tinta secar antes de terminar toda a tela, é que surgem as explosões de cores únicas e com poucas chances de se repetires. A inspiração vem da meditação e do processo de descoberta interior.
“Formas vão surgindo na abstração e sinto que cada pessoa que observa tem sua própria experiência visual“, revela. A artista trabalha ainda com desenho, argila e recentemente descobriu o bordado nas aulas de arteterapia.



Intervenção Aqui Acolá
Para a intervenção do nosso logotipo Patrícia Melro usou a imagem do pássaro fazendo referência ao movimento que o nome do blog – “Aqui Acolá”- representa, aliando a paixão que tem pela ave. “O pássaro é uma figura muito presente na minha vida até porque meu nome é “Melro” que é o nome de um pássaro. Além disso, sou fascinada pela sua liberdade que é o que gosto de ser, livre sem me sentir presa a nada”.
Muito bem, parece com a minha história, engenheiro de profissão e pintor de nascimento. Vida longa, saúde e muita pintura!