As obras do renomado pintor alagoano Lula Nogueira carregam consigo muito de Alagoas. Cenas cotidianas, cenários da terra, locais famosos e histórias do povo alagoano são ilustradas por suas vivas cores e estilo popular. Lula Nogueira é o artista especial do mês de junho e o Aqui Acolá bateu um papo com ele sobre seus trabalhos e a arte alagoana.
Iniciou e fez seu nome através da pintura, destacando-se pelo estilo naïf, que pode ser traduzido como arte ingênua, primitiva ou popular, ou seja, não-acadêmica, uma arte pura. Antes disso, quando criança, já gostava de retratar as cenas e paisagens do interior que presenciava em Viçosa e Branquinha. Pierre Chalita, um dos maiores nomes da pintura alagoana, era amigo de sua família e incentivou-o a continuar no caminho das tintas.
Começou a estudar no ateliê da professora Vânia Lima e, posteriormente, com o próprio Chalita. Profissionalizou-se em desenho arquitetônico, aumentando ainda mais sua fascinação pelos cenários culturais nordestinos. Expôs pela primeira vez em Marechal Deodoro, aos 20 anos de idade.
Nos anos 1980, abriu uma galeria que abrigou tanto seus quadros, como de vários artistas alagoanos. Nessa mesma época, fez parte do Grupo Vivarte que, apesar do pouco tempo, criou um movimento tipicamente alagoano, fruto de uma junção entra a reação à censura que havia nos últimos anos da ditadura com o desejo de modernidade estética na arte.
Seu talento o levou a conseguir uma exposição individual no Rio de Janeiro em 2001, além de várias bienais de arte naïf pelo Brasil. Entretanto, Lula também produz instalações e busca aprimorar suas telas com elementos que vão além das tintas, como colagens e fotos.
“Acredito que hoje o artista plástico bebe de muitas fontes”, diz ele. “De certa forma outras linguagens sempre estiveram presentes no meu trabalho porque fazia colagens, utilizava fotos, etc. E hoje já faço um pouco de instalação, também”.
A maturidade também fez bem ao seu trabalho. “Desde que eu comecei a deixar de agradar ao mercado, aos arquitetos e decoradores para começar a fazer quadros que eu me agradasse a ponto de ficar com eles dentro da minha coleção particular e afetiva, foram surgindo quadros mais fortes, mais elaborados e com mais significado”, revela.
Profundo conhecedor da história da pintura e da arte produzida em Alagoas, Lula sente falta de um espaço que marque e registre a trajetória dessas pessoas e sua importância para o desenvolvimento artístico local.
“Não temos um espaço com um acervo merecido com os grandes nomes da pintura no estado e, com isso, as novas gerações vem sem referência”, comenta. “Meu sonho é juntar esses quadros meus que contam a história de Maceió com outros de grandes pintores alagoanos e montar um espaço onde as pessoas possam contemplar e entender, sem preconceitos”.
Para a intervenção na logomarca do Aqui Acolá, a ideia do movimento está presente nos olhos que vão de um lado a outro. “Tem muito do estilo popular, do São João que já está aí no leque. O sutiã que representa a nossa cidade praieira. Ou seja, o título é muito sugestivo, então ele remete à Maceió, ao movimento, à praia”, diz ele. “Fiquei muito feliz com o convite e foi um trabalho muito prazeroso de ser feito”.
Texto: Nicollas Serafim | Créditos das imagens: Acervo pessoal de Lula Nogueira
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