CRITICA. A mostra inédita “Do lado de cá, do lado de lá”, da artista plástica Eugênia França, ocupa um dos salões da Pinacoteca Universitária até 19 de maio. A exposição aborda assuntos reflexivos que retratam realidades pouco conhecidas.
Dayris Carvalho dos Santos*
De acordo com o Aurélio (2000), arte é a capacidade ou atividade humana de criação plástica ou musical, por conseguinte, estas criações expressam a subjetividade humana e despertam sentimento. Então, partindo do pressuposto de que arte é tudo aquilo que desperta emoção no espectador, podemos afirmar que arte é algo relativo. E a relatividade da arte, quando percebida, é encantadora. Esta é uma das palavras que uso para definir o primeiro trabalho individual da artista plástica, Eugênia França, exposto em um dos salões da Pinacoteca Universitária.
Intitulada “Do Lado de Cá, do Lado de Lá”, a mostra reúne criações que discutem capitalismo e humanidade, tendo como protagonistas de suas telas crianças periféricas. Num primeiro momento, cria-seuma aversão quase que instantânea no admirador, devido à macabra seleção de cores e estranhamento pela realidade retratada. A mineira faz uma crítica ao abuso que ocorre contra crianças nas estradas, utilizando como matéria-prima lonas velhas de caminhão, reutilizando-as, afrontando corajosamente o consumo exacerbado e inconsciente.
O consumo exagerado é uma consequência do sistema capitalista que utiliza estratégias para continuar produzindo produtos novos e pregar a ideologia de que você sempre precisa comprar mais e descartar o que já está velho (nem sempre tão velho assim). Essa lógica fica evidente na maioria das obras expostas na Pinacoteca, pois elas retratam que os excluídos não são apenas objetos, mas pessoas que não compartilham desse sistema.
A arte vem sendo, cada vez mais, utilizada para as denúncias e críticas sociais, a exemplo de como a artista italiana, Lady Be, reproduziu a clássica boneca Barbie cheia de hematomas, para denunciar a violência doméstica, retratando que as mulheres são tratadas como objetos. Sob essa mesma perspectiva, Eugenia França fala sobre os objetos humanificados que vem sendo produzidos e consumidos. “Eles brincam como se tivessem vida e zombam da nossa cega submissão. […] Que tudo não passa de uma coisa só: Gente-objeto, objeto-gente.”
Em algumas de suas obras, fica impossível distinguir crianças e bonecas sem uma orientação, uma premissa. Os detalhes são tão precisos e fortemente encontrados que constatamos o que foi dito, “objeto-gente, gente-objeto”. Ela não suaviza o traço, retrata o universo infantil da forma mais bruta que consegue capturar, produzindo um cenário obscuro, mas real, fora do que é familiar e convencional. Através de bonecas sujas e velhas, descartadas pelo consumismo, nos faz experimentar o conceito de alteridade, definido pela antropologia como uma forma de compreender o outro através do contraste, das diferenças.
Assim é a arte de denunciar de Eugênia França, depositando no pincel todos os seus pensamento e reflexões, provando que uma obra nem sempre é o que esperamos, mas que devemos, com mais calma, manter a mente “aberta” para poder receber e interpretar a mensagem que deseja passar.
*Dayris Carvalho dos Santos – é estudante do curso de Comunicação Social – jornalismo. A publicação desta crítica é uma parceria do blog Aqui Acolá com a professora Danielle Candida, que ministra a disciplina de Produção Textual 2, na Unit Alagoas.
Créditos das imagens: Alexandre Vitor e Felipe Lima
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