O artista tem o dom de enxergar o mundo de maneira diferente, de notar algo profundo e significativo no que possa parecer o mais comum e trivial para a maioria das pessoas. A exposição “Cama”, em cartaz no Complexo Cultural do Teatro Deodoro, é uma das provas do olhar poético do artista. A mostra contém 41 trabalhos, entre pinturas, desenhos, fotografias, esculturas e instalações, com a mesma temática – a cama – mas com diversas interpretações.
Com a curadoria de Viviani Duarte e Rosivaldo Reis, “Cama” é mais um dos projetos feitos pela Associação dos Artistas Visuais Profissionais de Alagoas (Avisual). O resultado da exposição é consequência de outra mostra feita em 2014 chamada “Cadeira”. “Essa ideia de trabalhar objetos e transformá-los numa exposição bem contemporânea surgiu aí”, revela Viviani.
“Para 2017 pensamos em outro objeto, dessa vez a cama, e todos aceitaram porque o tema é instigante. A gente vê na exposição uma multiplicidade de valores e de pensamentos que se comunicam ao mesmo tempo”.



O térreo da galeria é dedicado à tridimensionalidade das instalações, já no primeiro andar estão os desenhos e as telas. Para a escolha dos artistas, foi feita uma chamada pública e todos que se inscreverem foram selecionados para participar com uma obra, resultando num interessante encontro de veteranos e consagrados lado a lado com novos talentos, muitos expondo seu trabalho pela primeira vez.

“Cúpulas, Câmara e Teto” é o título da tela desenvolvida por Teresa Lima. O trabalho tem um forte viés político e social do atual momento brasileiro.
“Tentei retratar o caos e o desespero que vem tomando conta do nosso país”, diz ela. “O quadro tem várias referências à crise política e econômica enfrentada e sentida principalmente pelo povo”.

Elisabeth Wolbeck criou uma instalação muito interessante chamada “Árvore da vida horizontal”, uma espécie de árvore invertida destacando as várias camas por quais passamos durante a vida, desde o berço até o caixão. A obra também é composta de colagem, fotografia e poesia. É a primeira exposição da artista.

“Na noite de abertura eu estava numa expectativa muito grande porque eu não sabia se iria agradar, se minha obra seria bem aceita. Mas me surpreendi com a recepção do público e fico extremamente feliz de estar entre artistas de nome e tão talentosos”, revela.

Outra iniciante no mundo das exposições é a pintora Renata Marinho. Seu quadro “Menina – som e calma” revela um trabalho repleto de singeleza, introspecção e busca interior. “O tema me deixou pensando muito no que retratar, mas os pensamentos fluem melhor enquanto estou deitada ouvindo música e foi daí que me veio a ideia de retratar a menina/moça descontraída, viajando em seus pensamentos”, diz ela. “Os elementos da natureza também são uma grande paixão minha. Toda a composição vem do sentimento ao misturar música e tinta numa tela”.
Edgerson Porfírio também apresenta pela primeira vez sua “Caminha espacial”. A instalação nos faz viajar para longe, já que ele mesmo diz que “quer viver nas nuvens, no espaço”. A obra é resultado de seus estudos em ferro e madeira. “Estou aprendendo com o mestre Paulo a soldar, serrar, colar e fabricar”.

“Cama de gato” é o nome do quadro de Rodrigo Câmara. “Eu quis fugir um pouco das cores que eu já vinha pintando e a ideia que quis passar foi a de que todos nós estamos por um fio nas mãos do Criador”, afirma. A obra é carregada de perspectiva e de tons claros. “Já é a quarta exposição que participo com a Avisual e é sempre um prazer dividir esse espaço com outros artistas”.

O desenho de Walisson Silva também está presente na exposição. Sua obra “Preguiça” contém as técnicas da caricatura, utilizando caneta nanquim e lápis de cor. “Optei pelo personagem da caveira por não ter sexo e o tema que escolhi está muito presente no dia a dia das pessoas atualmente, principalmente nas redes sociais”, comenta.

O paulista Dinei é outro representante do desenho em “Cama”. Suas características marcantes são o traço firme e a riqueza dos detalhes dos personagens de desenho da cultura pop em situações inusitadas, mórbidas e ao mesmo tempo engraçadas. “O tema que escolhi foi pesadelo e misturei personagem de filme de terror com contos de fadas”.

Viviani Duarte também participa com a instalação “A insustentável leveza do ser”, onde ela retira o objeto cama e o retrata através de outros elementos.
“O trabalho além de ter alguns objetos, também tem uma poesia escrita. Os elementos remetam a uma subjetividade e uma abstração que representam a essência do ser humano e sua relação com a cama durante a vida – para nascer, se reproduzir e morrer”, revela.
Wilde Reusa baseou seu quadro em sua primeira cama e retratou o quarto de sua memória afetiva. “Pensei na cama e no quarto como um tema e um momento muito solitário, de reflexão e de pensamento”, afirma. Ela trabalha como arte educadora e seus estudos também funcionam como forte influência para sua arte.

Além desses artistas, o público pode conferir obras de Adriana Jardim, Alberto Lima, Alex Barbosa, Andrade, Bárbara Lessa, Diniz, Erivaldo Alves, Eva Cavalcante, Fátima Pereira, Frédérique Groutars, Gilsean Ribeiro, Jackson Lima, Jorge Vieira, Karina Mechelle, Lilian Barbosa e Roger Silva, Lula Nogueira e Gustavo Lima, Marcos Aurélio, Marcus Plech, Metalmorfose de José Paulo, Myri, Munganga, Nicolas Elifas, Paulo Caldas, Pedro Cabral, Persivaldo Figuerôa, Regina Mesquita, Roberto Costa Farias, Roseane Santos, Thiago Sobral, e Vaní Andrade.
“O resultado está sendo bastante animador”, afirma o curador Rosivaldo Reis. “Apesar do tema parecer banal, do cotidiano, mas aqui ele teve uma outra visão artística e até filosófica”. “Cama” fica aberta à exposição gratuita do público até o dia 27 de março no Complexo Cultural do Teatro Deodoro (anexo ao teatro) em Maceió, de segunda à sexta, das 8h às 18h, e as quartas, das 8h às 20h.
*A fotografia que ilustra esse post é do fotógrafo Jorge Vieira que compõe o tríptico “Cama Nativa.
Obrigada pela oportunidade de mostrar meu trabalho agradeço a equipe (aquicola.net).
Maravilhosa!!
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